CRÔNICAS DA SALA DE AULAS - 01
Numa aula de filosofia para o 3º ano do ensino médio, não lembro o tópico de que tratávamos, os alunos - e especialmente uma aluna - estavam com dificuldade para compreender. Apelei para a astronomia, no intuito de tornar a coisa menos árida. Mas acho que não deu certo. Eu disse para a referida aluna: "Aquela estrela que você e seu namorado gostam de observar lá na Praia da Lua(*), por exemplo, pode não existir há, digamos. . . Vinte mil anos!". "Pirou, professor?", disse ela. "Como pode não existir, se a gente a vê toda semana?". Então completei: "Suponhamos que tal estrela estava a quarenta mil anos-luz de nós e que, por alguma razão, se apagou há vinte mil anos. Então, vocês não só podem vê-la, ainda, como ela continuará à vista da humanidade pelos próximos vinte mil anos!" "Pode parar, profe!, gritou a aluna. E olhou para os colegas a sua volta, balançando a cabeça e girando o indicador perto da orelha. Resolvi mudar de assunto. Antes, porém, dei-lhe um conselho: "Tente aproveitar melhor suas aulas de física e matemática, ok?"
(*) Praia fluvial, à margem esquerda do Rio Negro, poucos quilômetros a Oeste da zona urbana de Manaus, com faixa de areia em forma de meia-lua, muito frequentada à noite por casais apaixonados.