Diálogo com Mãe

Um breve diálogo com minha mãe em uma quarta de manhã me fez perceber que a nossa relação é contraditória, mas de uma forma engraçada.

Eu perguntei a ela:

- Mãe... O que você faz quando precisa se afastar de uma amizade que ama muito? Você não quer se afastar, mas sabe que esse é o único jeito?

Ela respondeu:

- Você se afasta, ué!

Eu esperava já essa resposta da minha mãe. Uma resposta óbvia, objetiva. Então tentei aprofundar a conversa. Aprofundar para o medo. Como se não fosse possível fazer novas amizades ou se aproximar de outras que já temos:

- Eu sei, mãe. Mas... e quando você sente medo de não encontrar outra amizade que possa contar as mesmas coisas, sabe? Com o mesmo nível de confiança, assim?

Ela me respondeu com uma outra pergunta que eu não esperava:

- Porquê? Você não pode me contar, não?

Refleti um pouco sobre algumas coisas que queria contar mesmo. Mas pensei na preocupação que eu poderia trazer pra ela. Fiquei alguns segundos pensando no que responder. Saiu um baixinho:

- Acho que não...

Ela me questionou prontamente, com uma falsa perplexidade. Daquele jeito que a gente sabe que se finge:

- É homem? Você tá gostando de homem, Gabriel?

Pensei em responder que gosto do meu pai. Mas aí ela não iria me levar a sério. Então respondi:

- Até parece que você não sabe disso, né! Eu gosto de homem também! Mas isso é o de menos, mãe!

Daí ela respondeu:

- Então conta pra Deus...

Me segurei para não rir, mas não queria demonstrar nenhum sinal de deboche. Queria continuar uma conversa em tom sério:

- Quem me dera, mãe! Você sabe que eu sou ateu. Ou agnóstico, sei lá...

- Então eu só lamento, meu filho... Que você volte a acreditar nele, que aí tudo vai se resolvendo.

Desconversei:

- Você vai trabalhar hoje também? Já estou indo.

Ela respondeu em parte:

- Vai com Deus.

Respondi automaticamente:

- Amém.

18/12/24 (de manhã)