Um Papai Noel Sem Barba
Eu já disse que o Natal deixou muitas recordações em mim, boas, emotivas, e das quais eu tive a oportunidade de participar.
Deviam ser os dias que antecediam o Natal de 1943. Morava eu, nessa época, no 960 da Carlos de Campos e, umas casas acima da nossa, morava um senhor que fazia vários tipos de brinquedos com madeira, e os vendia a preços quase simbólicos, pois era um tempo muito difícil, e quase não sobrava dinheiro para ninguém. Eu e os garotos das imediações íamos pintar os brinquedos. Para nós era muito divertido e gostoso, pois Dona Maria, esposa do mestre marceneiro, muito bondosa, não deixava de nos brindar com o seu café cheiroso e as suculentas polentas fritas, visto que o pão estava racionado em todo o Brasil.
Eu tinha pintado dois caminhões, com muito capricho, em verde e vermelho, em xadrez. A minha obra prima, depois que secou, eu guardei muito bem, no quarto onde ficavam todos os brinquedos prontos.
No dia seguinte apareceu uma mulher muito sofrida e disse ao nosso mestre: ..”meu senhor, eu tenho dois filhos e eles querem um caminhão de presente, mas tem de ser iguais, só que eu fiquei viúva há pouco tempo e não sei como poderei pagar ao senhor”.. dizendo isso, já com lágrimas nos olhos.
Então o senhor Gumercindo Pereira, este era o seu nome, me chamou e disse: “..Laércio, vá buscar aqueles dois caminhões que você pintou e os traga naquele saco branco em que você os embrulhou..”. Quando a mulher recebeu os brinquedos havia alegria nos seus olhos; ela agradeceu muito e foi embora muito feliz. Então o senhor Gumercindo me abraçou e disse: .”A maior recompensa que temos na vida, é contribuir para fazer alguém feliz, com coisas que nós fizemos com as nossas mãos, e hoje você e eu participamos desta obra. Nunca se esqueça, pois é isso que Deus espera de cada um de nós..”. E nunca me esqueci, principalmente da bondade do nosso Papai Noel, digo Gumercindo Pereira.