O telefonema

Um telefonema de alguém distante surpreende o ouvido sensível de saudades, mas o coração amargurado pelo vazio que você deixou parece não ter memórias, e os batimentos frenéticos ganham forças pela alegria de um possível reencontro. Nesse instante, o cérebro bipolar esquece tudo o que você fez e organiza um turbilhão de possibilidades. Vermelho ou verde? Mimar o desespero ou embalar a esperança que surge timidamente além do horizonte? Juntar os cacos ou jogar fora os pedaços de tristeza? Ter você de volta suscita dúvidas, e o pico de ansiedade bate no termômetro 100% de insegurança. É que você partiu sem pecado e sem juízo, e o remorso não estava nas entrelinhas. Na verdade, tenho muitas perguntas que ficaram sem respostas, e o momento é linha tênue, delicado, e entender o óbvio é sofrimento duplo. Tem separação que é melhor continuar com o silêncio, fica subentendido então. Vamos enterrar nossos mortos, calar a razão e permitir que o coração tenha voz. E se nada der certo, ninguém ganha, pois tudo já estava perdido mesmo. E o telefone tocou três vezes, foi quando tive esse lapso temporal das lembranças e imaginei-me nos teus braços uma última vez, mas quando atendi, trêmula de vontades, você só desejou um feliz natal.

Jaciara Dias
Enviado por Jaciara Dias em 25/12/2024
Código do texto: T8226975
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