O GIGANTE E O ANÃO

Sabe como criar um gigante e transformar em um anão?
É fácil, pegue lápis e papel e anote...

Ele sabia que teria nascido predestinado a ser o maior.
De muitas maneiras se sentia especial e pronto para ser grande,
em algo que se referisse às coisas terrenas, como brilhar, viver o seu show.
Uma posição de destaque ele sabia que teria, se sentia já um “Gigante”.

O gigante era alimentado por ele, pelas pessoas que o cercavam,
pelo ambiente que lhe favorecia, em fim, ele poderia ser um gigante de fato.
Ele se preparou para isso, para se lançar à vida com as convicções de um gigante.
O mundo seria dele, ele teria as coisas e as pessoas que quisesse.

Todos diziam ao gigante o quanto ele era grande, forte, bonito e inteligente.
Ele vivia a realidade do ego envaidecido, desde cedo já tinha tudo e todos.
Era o mundo que qualquer pessoa gostaria de ter, aqueles que entendem assim...
Ele entendia assim e por vezes sem querer se sentia melhor que os outros.

Parece entretanto que havia dia e hora marcada para o Gigante começar a tomar as primeiras marteladas na cabeça. E de cima para baixo mesmo!
O tempo é implacável, “mata a cobra e mostra o pau!”, e tinha chegado a hora. O maior, mais bonito, mais capaz e mais inteligente, não era nada disso...
Ele foi deixando cair uma a uma as máscaras que ele mesmo teria colocado.

Tinha fraqueza, muita vulnerabilidade, tristeza, cara feia, e muita covardia.
E o “Gigante”? Ele não sabia que nada disso existia, isso é que foi o pior, que tudo isso seria a verdade dele e ele não tinha se preparado para isso.
Foi o dia em que a terra tremeu, o dia do tombo do gigante...
Estava lá o diminuído, o coitado, o desolado estendido e machucado no chão.

As pessoas se perguntavam, mas por onde anda o gigante? O que foi feito dele?
Ele, desapareceu para o mundo, fugiu, se escondeu e agora vive com medo.
As pessoas, as mesmas que enalteceram o gigante antes, construíram seus castelos, suas fortalezas, se tornaram grandes, sem entretanto planejar nem se cobrar nada disto desde o início e pelo resto de suas vidas, e muito menos serem cobradas.

O gigante? Sabe lá o que ele fez para se levantar, se reconectar com o mundo, perder o medo que a esta altura já era pânico, e realmente ninguém mais viu.
Entretanto um dia foi visto um anão, sim, um ser pequeno, teoricamente fraco e desprovido de beleza, afinal, um anão foge completamente aos padrões!
Tratava-se de uma pessoa com passos leves, cuidadosos, de fala discreta, tímido, sem ambições, poderia-se até dizer mal vestido, mal cuidado, castigado mesmo.
A ele não importava mais se cuidar, não tinha motivo para isso, nem motivação.
Esse anão não queria crescer, estava acomodado, não aspirava nem mesmo ser notado.

Esse ser, que não tinha amor próprio, vagava como um zumbi,
Sobre as pessoas? Que é isso? Ele não poderia amar ninguém se nem a ele amava.
Sobre conquistas? É ruim! Quem conquista algo se é fraco e não sonha mais?
Sobre o futuro? Silêncio... O Anão não tinha futuro.
Sobre a morte? Tanto faz, ou melhor, seria até uma alívio!

Pois bem, não há surpresa nesta estória, do gigante se fez o anão!
É assim que se faz alguém ir ao fundo do poço,
basta apenas não preparar a pessoa para a vida real.
O tombo e a dor do tombo são incalculáveis, depende do tamanho do” Gigante”.

Mas e agora?
Como dizer ao anão que basta ter fé, acreditar em Deus, que existe de verdade uma virtude chamada coragem, que ele precisa crescer e resgatar sua auto-estima, que a essa altura a vida ainda oferece a ele uma oportunidade? Como tocar o diminuído e empedrado coraçãozinho? Com palavras? Impossível, infelizmente. Gestos e atitudes? Talvez...

Aí está um desafio que deixo para os Gigantes da vida, os verdadeiros seres humanos, que não se equivocaram tanto quanto o falso Gigante, pensarem e proporem soluções... E não se excluam disso, porque eu sei que vocês existem.

Como transformar o anão em um ser humano normal gente, no tamanho e na intensidade que devemos viver?
jluizalencar
Enviado por jluizalencar em 18/01/2008
Código do texto: T822494
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