DESCONSTRUÇÃO

DESCONSTRUÇÃO

Surdos, à beira do riacho vermelho com margens e águas aterradas, heróis de desrespeito, bradam por uma boquinha, enquanto o sol escondido por fumaça e raios tempestuosos opalescem o céu por longos instantes. A desigualdade conseguida com porradas de braço forte nos peitos, mata a liberdade, e a morte idolatrada, sem salve salve, mata de verdade. Um pesadelo intenso, um corisco mortal de ódio e desesperança ergue-se do chão. O céu carrancudo e entristecido não consegue refletir a imagem alagada. O gigante desdenha a natureza, é feio, fraco, macunaimícamente medroso e no futuro uma pequenez. Terra esplendorosa entre tantas outras, mãe gentil de filhos vis, pátria não amada. O berço esplêndido apodrece, ao ruído de águas servidas, céu apagado, sem enfeites, luz mortiça num mundo envelhecido. A terra sem adornos, sem matas, sem flores, sem bosques, sem amores, sem salve salve, mata de verdade. Desamor é símbolo, de pendão em estrelas cadentes e cores plúmbicas, sem paz, num presente sem futuro. Erguida na injustiça, sob tacape roubado, foge temeroso matando a morte em vida. Terra aviltada entre tantas outras, és tu, mãe gentil de filhos vis, pátria não amada, Brasil.

Escrevo esse texto, profundamente abatido, pelo que vi, pelo que vejo, pelo que sinto e pelo que imagino, mas não verei.

Arnaldo Ferreira
Enviado por Arnaldo Ferreira em 17/12/2024
Código do texto: T8221050
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