Linguajar tubaronense
Ganhei um livro de presente de meu irmão. A obra literária é de seu amigo Ramires Sartor Linhares, editora Perito, a mesma do meu último livro. A ÉGUA DO ALONSO versa sobre expressões e termos usados em Tubarão e região. Aproveitei, e sem a permissão declarada do autor, atualizei uma crônica, colocando entre aspas as palavras que retirei de sua obra.
Sou de lá, não sou de cá. Se fosse daqui não teria lembranças de lá. Como sou de lá, das “bandas” de Laguna, lembro-me das férias passadas com meus primos em Tubarão, ” na Zófa”. A casa de meus tios, era próxima à “ponte de arame”. Dia desses, passando pelo bairro, “degavarinho”, deparei-me com a rua e, só então, tive a certeza do nome. Dizem que as pessoas quanto mais envelhecem, mais se lembram do que se passou há mais tempo. A casa, “como diz o outro”, com devidos paramentos novos, está no mesmo lugar.
Qualquer um pode dizer e aceitarei: “Só faltava ela ter saído do lugar!” Meus olhos não se encheram de lágrimas, mas senti um aperto na garganta.
Quando era ainda um “bigurrilho” e passava as férias com meus parentes tubaronenses ia de Laguna até a Cidade Azul de trem. Hoje, existem passeios turísticos nas locomotivas Maria-Fumaça pela Ferrovia Teresa Cristina, ligando as cidades de Imbituba, Laguna, Criciúma e Urussanga. Fiz um desses passeios com a família, mas não é a mesma coisa. Antes, divertia-me dentro e fora do trem, quando chegava na casa dos primos queridos.
Jogávamos futebol e o pouco que aprendi foi com três primos que eram craques, um de Tubarão, os outros dois de Imbituba.
Quando jogava de mano, com algum deles, travezinha aberta, davam de 3 a 4 gols de “lambuja”, mas nunca venci uma partida. Nas peladas que participávamos, saíamos todos “esfolados, magoados”, não por perder a peleja, mas porque nos surravam porque éramos muito bons. Me incluí para dar um pouco de moral a mim mesmo.
O de Tubarão, primeiro cobriu a pele com a camisa do Hercílio Luz de Tubarão, depois a do Guarani de Campinas, do São Paulo e, por último, do Avaí de Florianópolis. Desculpem se a ordem não estiver correta. Antes de iniciar a carreira nos campos ocupou as quadras de ginásios de esportes. No futebol de salão, ele foi “atentado” e integrou o elenco dos Garotos de Ouro de Tubarão. Fez sucesso junto com Renato Sá. Este último foi destaque do Avaí, Grêmio, Botafogo e de outras esquadras de futebol. Chegaram a ser campeões de futebol de salão, nos Jogos Abertos de Santa Catarina.
Quando parou de jogar, trabalhou no Banco do Estado, foi jornalista esportivo e depois abriu seu próprio jornal. Chegou até a trabalhar na “rádia” por um bom tempo.
Um de Imbituba teve, digamos, mais sorte. Jogou no Flamengo e foi campeão mundial. Já o outro, seu irmão, “bateu a caçoleta” muito cedo, não podendo integrar nenhum time famoso.
Lembro-me também que tínhamos de ir à missa aos domingos, para só depois podermos brincar.
Antes de entrarmos no cinema para assistir à sessão matinê no Cine São José, salvo engano no nome, comprávamos bala “quebra-queixo” para melhorar nosso hálito. Timidamente paquerávamos as moçoilas, para aproveitar e “tirar um sarro”.
Algumas meninas tinham uma “padaria” avantajada que dava gosto apreciar. A regra era um não “istrovar” o outro quando fosse escolhida a paquera.
Para quem não sabe, Tubarão é um município brasileiro localizado no sul do estado de Santa Catarina.
O nome do município deve-se ao rio Tubarão, que em tupi-guarani era chamado Tubá-Nharô, "pai feroz". Outra versão corrente relaciona ainda este nome com o de um cacique muito influente que habitava a região.
Em 1974 o município foi atingido por uma catastrófica enchente. Causou a morte de aproximadamente 200 pessoas e desalojou 60 mil dos 70 mil habitantes.
Hoje é uma cidade grande. Eu já estou na casa dos sessenta. Sou do “tempo do epa” em que meu pai colocava “badana” no carro para conservá-lo contra a ferrugem e a sujeira. De ti, tu, Tubarão, lembro-me com saudades. Espero não ter sido “xarope” nas explanações.
És Tubarão, és Cidade Azul, e sempre terás, além dos leoninos, os ferrinhos em teu coração.
Aroldo Arão de Medeiros
17/01/2018