Cai, cai, tanajura!
Nos tempos idos do Sítio Chã de Areia, o inverno era mais do que chuva: trazia as tanajuras, formigas que, aos olhos das crianças, eram verdadeiros tesouros voadores. Bastava um dia de sol após a chuva para que elas surgissem, revoando pelo ar e mexendo com nossa imaginação.
A meninada, num frenesim, pegava seus canecos e saía a correr atrás das tanajuras, entoando o coro:
Cai, cai, tanajura, que hoje é dia de gordura!
Cai, cai, tanajura, que hoje é dia de fartura!
Era uma festa! Cada um, depois do divertido esforço, com seu punhado de tanajuras, já pensava no banquete que viria: fritas e servidas com farinha. Mas havia um problema. Minha mãe, sempre cuidadosa com o cheiro forte, proibia que fritássemos as tanajuras em casa. E então, a quem recorríamos? À nossa amiga Soledade, alma generosa que sempre nos acolhia.
Soledade, que morava na casa ao lado, recebia-nos com um sorriso acolhedor. De canecos cheios de tanajuras nas mãos, pedíamos a ela que as fritasse. E, com paciência e carinho, Solidade assumia a tarefa, enquanto nós, um bando de meninos ansiosos, aguardávamos o festim.
O cheiro das tanajuras fritas invadia o ar, misturado ao sal e à farinha, trazendo consigo o gosto inesquecível da infância. Ficávamos impregnados por aquele aroma, como se cada fritada deixasse uma marca profunda em nossas memórias, tecendo as lembranças mais queridas dos nossos dias no Sítio Chã de Areia do Pilar.
Era um tempo em que pequenos gestos proporcionavam grande felicidade. O riso solto das crianças, a paciência de Solidade, o sabor das tanajuras... Tudo isso compunha a tapeçaria das minhas memórias, como um poema que celebra os momentos mais doces e simples da vida.