Julgamentos da História: Joana D'Arc
Em diversos momentos da história da humanidade, o julgamento fez total diferença. Seja por moldar a civilização com as decisões do tribunais, se para apontar os valores vigentes ou decadentes.
Assim se deu com Sócrates, e tantos outros reis ou revolucionários, nazistas, fascistas, fossem heróis ou vilões.
A decisões judiciais podem sentenciar a morte fosse na fogueira ou nas câmaras de gás, e deixar algozes indiferentes diante da morte do outros. A extinção do outro não os comove.
Nem mesmo Joana D'Arc escapou da dureza de um julgamento e de sua sentença de morte. A famigerada Guerra dos Cem Anos que ultrapassou a um século pois foi de 1337 a 1453, resultou numa França devastada por conflitos cruéis e sangrentos movidos por favor do amor pela pátria...
A origem da Guerra dos Cem Anos está na disputa pelo trono francês, que ficou vago logo após a morte de Carlos IV, em 1328. Os ingleses queriam se aproveitar desse vácuo de poder na França para assumir o seu território e usufruir dos benefícios econômicos, principalmente em Flandres, uma região próspera comercialmente.
O nome Joana D'Arc possui raízes etimológicas que remontam ao hebraico, onde Joana é uma variante feminina de "João", que significa "Deus é gracioso". D'Arc refere-se à cidade de Arc, na França, onde João nasceu.
A desavença entre franceses e ingleses teve origem em disputas pelo trono francês e por interesses econômicos.
O motor principal da guerra fora a disputa entre os membros da dinastia Plantageneta, titulares do Reino da Inglaterra, contra a Casa de Valois, que eram os titulares do Reino da França.
Já no princípio do século XIV, o Rei da Inglaterra, Eduardo III (Plantageneta) que era filha de Isabela, princesa da família dos Capto, a dinastia fundadora do Reino da França, reivindica naturalmente o trono francês, vez que seu avô materno era o Rei Filipe IV, o Belo. E, foi ao autodeclarar-se herdeiro do trono francês em face de sua origem, deu início a um dos mais sangrentos conflitos que persistiu exatos cento e dezesseis anos. E, os franceses amargaram a derrota em Crécy, na Picardia. E, os reis morreram, e o conflito permaneceu sem solução.
Durante esse momento, desencadeou-se uma guerra civil na França, dividindo os Borguinhões, favoráveis à Inglaterra e os Armagnacs, partidários do rei francês. Quando foi assinado um tratado entre o duque de Borgonha e o Rei da Inglaterra, Henrique V pelo qual a França capitulou e ficou entregue aos ingleses, ficando o reino dividido em duas facções durante a guerra civil.
Nesse momento, os ingleses invadiram o norte da França, dominando Reims e Paris, de tal modo que o delfim, por obra de Joana, tornou-se rei da França mas reinou somente sobre a metade sul da França. Porém, tal situação será alterada depois de Joana assumir o pequeno exército, chegando a libertar Orléans e Reims, expulsou os ingleses e instaurou a almejada paz. Carlos VII foi consagrado na catedral de Reims, como Rei da França. Porém, apesar de tantas vitórias, não se impediu que fosse aprisionada, julgada e, finalmente condenada à morte na fogueira depois de um julgamento pleno de erros e injustiças.
Joana granjeou muitos inimigos apesar de sua breve vida, o que não pode ser comparado a astúcia de Pierre Cauchon, o bispo de Beauvais. Que elaborou muitas artimanhas para conservar privilégios conseguidos sem méritos.. Inicialmente, tomou partido dos ingleses, e, por isso recebera muitas honrarias e títulos, como a nomeação ao episcopado, e o título de conde de Beauvais. Ocupou o centro do julgamento de Joana porque os ingleses conheciam sua desmedida ambição e sua fidelidade ao monarca inglês. Além de querer vingar-se da derrota infligida por Joana. Coube a Cauchon prosseguir as formalidades precedentes aos processos em matéria de fé, então nomeou como promotor o Cônego Jean d'Estivet, que fora impiedoso para condenar a Donzela (la Pucelle, em francês).
A Santa Inquisição considerava crime alguém travestir-se, fosse de mulher ou homem. E, diante da negativa da prisioneira, encontrou-se o motivo para acusá-la e, dar por encerrada a fase preliminar, e o processo foi instaurado em dois meses.
Em ostensiva cerimônia pública, depois do interrogatório conduzido com violência, informou Cauchon a Joana que teria sido condenada à fogueira e, a jovem, então com dezenove anos, ficou aterrorizada. O bispo apresentou0lhe um Ato de Abjuração, que ela assinou com uma cruz. Foi graças a esse ato, pelo qual se comprometia a usar trajes femininos, escapou, naquele momento, da morte na fogueira.
Sua libertação foi reprovada pelos ingleses que desejavam eliminá-la o quanto antes, pois significava perigo para seus planos. E, mais uma vez, Cauchon, ciente da reprovação, retornou Joana à sua cela, quando fora agredida e violada. E, diante de tantos sofrimentos infligidos, acabou por escolher retornar ao uso de roupas masculinas, preferindo a fogueira do que terminar seus dias aprisionada e acorrentada.
Quando chegou a hora do suplício, a praça encheu-se de uma plateia que hoje se calcula algo em torno de dez mil pessoas, vindas das redondezas de Rouen. Muitas explicações foram feitas para explicar os mistérios de Joana, alguns chegaram a afirmar que seria filha de Isabel de Baviera e Luís de Orléans, e queria escapar do destino frugal de todas as mulheres na época, tais como casamento, filhos e total exclusão da vida política.
Destaca-se ainda grande ingratidão do Rei Carlos VII com relação ao julgamento de Joana, foi condenada a morrer na fogueira em 30 de maio de 1431. Depois de vinte e cinco anos desde sua execução, sua mãe conseguiu que o processo fosse reaberto e anulado e, Joana foi reabilitada pelo Papa Calisto II. E, em 1930 foi canonizada por Bento XV, sendo considerada uma das três mais importantes santas da França, juntamente com Nossa Senhora de Lourdes e Santa Teresa de Liseux.