A separação de um casal na Alameda Barros

Vi, pela segunda vez, a separação de um casal, na Alameda Barros, na Vila Buarque, no distrito de Santa Cecília, no centro de São Paulo.

Ela desceu do carro com suas malas, ele desceu, tentou ajudá-la com as malas e ela não permitiu que ele ajudasse. Ele parou a olhá-la entrando no prédio e saiu com o carro. Os olhares me impressionaram. O olhar dela de raiva e o olhar dele de perplexidade e de pesar.

São jovens, estão na casa dos trinta anos. Fiquei a pensar. O que levou a essa separação? Incompreensão, incompatibilidade, traição, desencontros, falta de diálogo, calúnias, interferências indevidas de famílias e de amigos, violências várias, coisas do cotidiano? Seriam muitas as causas. Não poderia saber o que levou a isso. Nem se um dia se entenderão e voltarão a conviver.

O que sei é que vi uma cena de duas vidas tomando rumos diferentes, pelo menos no momento. A vida ocorre com intensidade na Santa Cecília. É um local intenso de fluxo de pessoas, moradores, trabalhadores, compradores, vendedores e transeuntes. É intenso de situações de vida.

Fiquei a pensar. Como teriam sido os primeiros encontros desse casal? O que os teria levados a se encantar um com o outro? Como foram os primeiros diálogos? Aonde foram? Numa festa, num bar com amigos, na casa de alguém, na rua, em casa de algum parente?

Como teria ocorrido as primeiras aproximações, os primeiros encontros, os beijos, os sonhos, os planos, as ternuras, as palavras meigas, os primeiros carinhos e as grandes emoções do encontro? Como chegaram à decisão de se casarem ou morarem juntos, o planejamento de uma casa comum, os ajustes da vida, o momento de juntarem as coisas e passarem a conviver entre si?

Essas perguntas fazem parte das crônicas das ruas de Santa Cecília? Não haverá respostas, no entanto, as perguntas aqui são as composições das crônicas porque a vida muitas vezes não tem respostas.

Rodison Roberto Santos,

São Paulo, 01 de maio de 2023.