HORIZONTE
Hoje foi um dia diferente para mim. Não porque houve algum acontecimento especial, pelo menos não externamente. Acordei muito cedo, o que para mim já não é comum. Iniciei meu ritual diário – fiz uma rápida oração, liguei o rádio, fiz a barba e tomei banho. Comi uma fruta e saí para o trabalho. Fui caminhando, uma novidade também.
Retomei então um velho hábito há muito perdido – a reflexão. Puxa, nem tinha me dado conta como faz bem refletir, é como respirar, só que o oxigênio vai direto para a mente. Comecei a pensar na minha vida. Ultimamente tenho andado muito aborrecido com coisas que têm me desagradado, pelo menos até hoje. Enquanto caminhava e refletia, percebi um monte de coisas acontecendo ao meu redor que, quando vou de carro, não percebo porque tenho de ficar concentrado no trânsito. Quanta coisa tenho perdido por isso, inclusive o hábito de refletir. Vi cachorros andando livres pelas ruas sozinhos, sem rumo e felizes; vi cachorros presos a coleiras passeando com seus donos mas igualmente felizes. Vi também pessoas apressadas indo e vindo, muitas cabisbaixas e carrancudas, mas algumas sorridentes e falantes, principalmente jovens indo para suas escolas. De repente me deparei com algo que me chamou a atenção: uma placa em frente a uma escola de línguas com a frase “amplie seus horizontes” e a foto de um homem com um binóculo. Imediatamente levantei minha cabeça e olhei para o alto como que respondendo ao apelo da placa. Foi impressionante. Vi um céu azul com nuvens branquinhas e uma claridade tão bonita que nem acreditei que não havia percebido como o dia estava bonito. E assim, como num passe de mágica mudei imediatamente de atitude. Abri um sorriso e continuei a pensar na vida. Lembrei-me então da semana anterior, quando estava em férias num lugar maravilhoso onde todas as manhãs me levantava e ia diretamente para a janela e olhava para o mar e via o horizonte lá longe. Uma sensação maravilhosa me invadia e o dia ficava perfeito. Nesse momento entendi algo importante e que não é nenhuma novidade para ninguém, muito menos para mim, que tantos livros de motivação tenho lido – a vida pode ser boa ou ruim, tudo depende da atitude que assumimos em relação a ela. Pensei então nos cachorros que havia visto minutos antes, tão felizes. Os de rua, porque podem ir e vir para onde querem – para eles a felicidade é a liberdade. Os de coleiras, com seus donos, porque desfrutam da companhia e do carinho deles – para eles a felicidade é a segurança.
Atitudes diferentes em relação à vida, é disso que preciso também. Percebi que posso ser feliz ou infeliz com a mesma vida que tenho, isso vai depender da atitude que tomo em relação a ela. Pensei imediatamente na oração de Francisco de Assis e parafraseando-a pensei: obrigado Senhor por me levantar todas as manhãs e ter para onde ir e o que fazer, quando há tantos que nem sabem como irão preencher os seus dias; obrigado Senhor por ter certeza que há pessoas que me amam e por ter pessoas a quem eu amo, quando há tantos que nem sabem o que é o amor; obrigado Senhor por ter inteligência para perceber que viver é maravilhoso mesmo em meio a problemas, quando há tantos que estão com suas mentes tão embotadas que nem conseguem enxergar o horizonte. Entendi que o meu horizonte vai além das paredes do escritório, do computador à minha frente e dos problemas com chefes, patrões e clientes. Muito, muito além.
Ao chegar em meu trabalho após uma hora de caminhada e reflexão, estava me sentindo leve, cumprimentei a todos com um sorriso e fiz brincadeiras que há tempo não fazia. Atitude, minha atitude. Só ela vai fazer com que meus dias sejam felizes ou tristes e, consequentemente minha vida também. Os problemas irão continuar todos os dias e não irão mudar. Resolvo uns, aparecem outros e assim será até o fim dos meus dias. Já passei por muitas situações na vida, situações boas, ótimas e até excelentes; mas também situações difíceis, ruins e até péssimas. Todas elas passaram e eu continuo aqui. Que seja assim por muito tempo.
Foi então que começou a chover. Olhei para o céu e vi nuvens escuras, o tempo fechado, mas isso não me aborreceu porque sei que acima daquelas nuvens o sol continua lá, brilhando, e o céu continua azul. Não decidi fazer aquele curso de línguas cuja placa me inspirou a ampliar meus horizontes, mas com certeza já comecei a ampliá-los pois o primeiro passo é tomar uma atitude positiva, e isso eu já fiz.
Estou compartilhando isso com você para que seu dia seja mais feliz, assim como foi o meu.
22/03/2006