O Menino Lobo

Havia tantas contradições do Menino Lobo. Os “exagerados” comentavam que tudo isso era o reflexo do pai ausente e a questão de sobrevivência de viver sozinho.

Os “fofoqueiros de plantão” não tinham papas na língua e declaravam sem piedade ao vento que as noites de lua cheia eram mais tensas pelo vilarejo.

Padre Onofre morria de compaixão! Pedia perdão a imensa imagem de Jesus Cristo instalada na praça matriz da pacata cidade de Oriunda, em mercê dos faladores e proteção ao indefeso Menino Lobo.

Os “filhos dos fofoqueiros de plantão” tratavam-no com tanto preconceito, que no momento da brincadeira de esconde-esconde, todos se escondiam tão bem, que o inocente Menino Lobo levava horas batendo a cara, na esperança dos coleguinhas se esconderem e tão breve de ele sair pelas ruas e matas próximas, a procura de cada um dos participantes. Que nada! Por não saber contar tão bem os números, levava horas na expectativa de dar um bom tempo justo para todos se esconderem, e quando saia, a empolgação logo virava tristeza. O Menino Lobo tão logo caia na consciência, sem ao menos saber o nome certo, mas quando via, notava que ninguém mais estava brincando consigo. Era só ele e a bendita solidão!

“Os exagerados” tinham vezes que eram mais amigáveis, menos na lua cheia, pois acreditavam que nesse período, o Menino Lobo deixava de ser humano e se tornava uma fera impossível de se autocontrolar.

Ninguém se preocupava de saber como realmente estaria o Menino Lobo. Passar boa parte na mata, não era o seu instinto animal, mas questão de sobrevivência. Às vezes caçava na mata algo para matar a fome das quais nem sempre tinha alguém para lhe auxiliar. Acreditara tanto que o espírito da mãe falecida vivia na mata e o auxiliava nos alimentos que ali encontrava. Aprendeu com o pai a caçar e preparar alguns alimentos básicos. As frutas eram dos pés contidos na mata virgem do vilarejo.

Ah, se os “fofoqueiros de plantão” ou os “exagerados” pudessem um dia sentir na pele o mata leão por um dia do Menino Lobo; haveria de descobrir o guerreiro que se encontrava no pequeno menino da selva!

Os seus uivos idênticos ao da lua cheia nunca era dele. Era a maneira que ele encontrava de ser feliz no local, momento único que se sentia respeitado e avistado pelo povo ignorante do vilarejo.

Era o momento único que tinha a atenção do pai ausente, que gargalhava não entendendo o fato e achando que o filho era um verdadeiro artista em imitação.

Já o povo tremia de medo, calculavam que ali, era a confirmação da tamanha ignorância carregados sem medo dentro de si.

Já ao Menino Lobo era a festa que ele nunca teve na vida, nem no seu décimo terceiro aniversário!