Capela de São Roque

Todos os dias, ainda escuro, eu ouvia o sino da Capelinha a tocar. Eram 6:00 horas da manhã e eu morava a um quarteirão dela. Ainda na cama, eu sabia que era hora de levantar, pois era aluno da escola da Capelinha. Morávamos nesta época, no 327 da Carlos de Campos, mas quase todos os dias eu ainda via, com meu nariz esborrachado no vidro da janela que dava para a rua, as duas velhas encapotadas que vinham da Roque de Marco e iam à missa das 6:30, na nossa Capela de São Roque, que era celebrada diariamente pelo Padre Guilherme.

Anos terríveis, pois tínhamos uma Guerra Mundial em andamento, e toda a fé e preces eram destinadas aos homens que estavam em conflito, para que logo a paz voltasse a reinar no Mundo.

Todos os dias acontecia algo pitoresco: era o Vicentinho, garoto de uns 6 anos, que vinha arrastado por sua mãe e uma irmã sua. Vinha chorando alto e somente assim era possível traze-lo para a aula. Os bicos de suas botininhas já estavam gastos de tanto serem arrastados nas pedras da calçada. Quando alguma das freiras chegava perto dele ele soltava um grito de pavor. Depois que entrava na classe ele ia se acalmando. Como ele sentava ao meu lado, perguntei porque ele não queria vir à escola e então ele dissera que todas as freiras, à noite, viravam caveiras, por isso o seu medo. Ele me dissera que era verdade, pois até de dia elas pareciam com caveiras, era só olhar pois em volta do rosto delas tinha uma peça de algodão engomado, em formato de coração, que fazia parte do seu hábito. Tentei retirar essa idéia da sua cabeça mas foi em vão. Depois de algum tempo, não mais vimos o Vicentinho, que deve ter ido para um jardim da infância onde não tinha caveiras, ou melhor freiras.

Laércio
Enviado por Laércio em 17/01/2008
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