____TRÊS PULINHOS, SÃO LONGUINHO!
Fui comprar umas verduras nas imediações de casa. Gosto das folhas, principalmente, as alfaces e rúculas macias e fresquinhas. De tanto que vou à banca, acabei fazendo amizade com a dona. Nos dias mais calmos sobra um tempinho para uma prosa, coisa que gosto demais. Num desses dias calmos, eis que, de repente, a dona da banca, leva a mão à orelha direita e exclama:
— Senhor, cadê meu brinco? Ai, Jesus, perdi meu brinco!
Procura dali, procura acolá, ela ficou contrariada! Contou que o brinco era joia de verdade, me mostrou o da orelha esquerda: de causar mesmo pesar a perda de um brinco tão bonito. Ficou triste a moça. Querendo consolar-se, disse que há coisa pior, que Deus sabe o que faz. Foi aí que me lembrei de São Longuinho, o Santo que, segundo pregam, ajuda a gente com nossos perdidos e só nos cobra três pulinhos. Há quem acredite, há quem não. Eu sou de crer: por duas vezes, São Longuinho achou minhas chaves já completamente sem esperanças.
Muito bem, fiz um pedido silencioso a ele pelo brinco da moça. Ela já tinha desistido, mas eu não. Nem São Longuinho. Mas cadê o brinco? Quase me despedindo, meu olho certeiro, ou o do Santo, avistou a pecinha brilhando debaixo de um monte de cenouras. Gritei: Ali seu brinco! Ela ficou emocionada e disse: Você é um anjo! Não fiquei com o mérito. Expliquei que era todo de São Longuinho. E que ela tratasse de dar seus três pulinhos. Não sei qual é a crença dela, também não ia perguntar. O certo é que a deixei lá encantada por São Longuinho, ofertando a ele seus generosos três pulinhos. E a fé? A fé é tudo.