Fábrica
T - 20 Horas:
"Houston we have a problem". O toque no pager não engana, problemas pela frente.
Ligo para a sala de controle.
- Estamos totalmente parados, nem uma linha se movendo. Me informa o supervisor. O impacto para a fábrica de medicamentos é total, ainda mais em uma época dessas, inverno, os meses de maior faturamento.
T - 15 Anos:
- O Informata deve estar onde está o problema.
Do fundo da sala presto atenção nas palavras da Prof. Iara, Diretora do Curso, no primeiro dia de aula. Ela usa o termo Informata para definir os profissionais da área. Sempre preferi o termo Cientista da Computação, ainda que não tenha certeza se o que fazemos pode realmente ser definido como ciência.
Levei anos para entender essa frase, e mais tempo ainda para sentir ela na pele. Conclui tardiamente que ao invés de perseguir os problemas somos quem os criam no primeiro momento.
T - 8 Horas:
- Os servidores estão caindo que nem moscas!!
A exclamação é dramática, mas descreve bem o cenário.
Não sabemos mais o que fazer, e, pela primeira vez desde que esse inferno começou, estou assustado.
T- 7 Anos:
- Oi seu Jandir, esse é o Jack. O novo cara do sistema.
Seu Jandir apertou a minha mão, mas não chegou a sorrir.
- Bem vindo, e espero que essa seja a última vez que eu te vejo por aqui.
Que recepção.
- Pessoal de TI quando aparece aqui na fábrica é porque tem problema. Te desejo tudo de bom, mas não aparece por aqui.
Nunca mais esqueci aquele comentário, queria provar que o seu Jandir estava errado, mas nunca consegui.
T - 2 Horas:
O telefone toca.
- Descobri o problema. Diz o sujeito do outro lado.
Aí foi praticamente uma missão impossível.
- Subi o código para o meu web site, anota o link aí.
Baixa o código, salva no memory key, acessa o USB da estação, salva o código, cruza os dedos.
Yesss!!! Está funcionando.
Tempo Presente (T)
Seu Jandir estaria rindo se me visse hoje, e a professora Iara, chorando. Enquanto espero a adrenalina baixar assisto as caixas se moverem pela fábrica em ritmo frenético. Vinte horas consecutivas de problema deixam qualquer um louco. Se fosse sempre assim, elas se movendo sem parar.
Meu trabalho é deixar a fábrica rodando, mas nem sempre consigo fazer isso. Não importa de quem é a culpa, o problema acaba sempre sendo meu. E as caixas nunca param de chegar. Para o bem da empresa, é melhor que nunca parem mesmo, é o que paga o meu salário.
Eu me pergunto porque? Será que consigo viver sem isso? Mas agora, olhando as caixas se movendo entendo porque.
Pela ordem. Somos a última linha de defesa.
[]s
Jack DelaVega
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