A melhor forma de dizer que ama
Às vezes a melhor forma de dizer que ama é deixar partir. Rossana fugiu, partindo o coração daqueles que lhe eram próximos. Nesse caso amar, significava procurar, e então uma busca com lanternas pela floresta escura fora executada por dezenas de pessoas, incluindo os pequenos admiráveis Luizo e Amerigo que a encontraram na beira dos trilhos do trem, sentada, quietinha. Disse que não queria ir embora pois havia encontrado um cadáver. Amerigo a consolou e a convenceu a voltar para casa. Rossana é a mais bela personagem do filme que acabo de spoilar, mas essa não é a melhor parte do filme.
Limpando as sujeiras dos meus gatinhos, percebi que já é tempo de se preocupar com a clausura de meus dias. Sim, no estágio avançado de minha pós juventude, caminhando solitáriamente pela terra, tenho a responsabilidade de partir sem deixar saudades, sem deixar vestígios de uma vida infeliz e sem deixar surpresas. Afinal não há bens, virtudes, dependentes e não tive a felicidade ou infelicidade de fecundar nenhum óvulo que represente o ideal materno das almas femininas. Caí no delírio de dizer infelicidade, pois Amerigo vivia se lamentando que sua mae o considerava um castigo de Deus! Mas que injustiça... Pode-se até dizer que ainda há tempo de ser pai, e de fato há, mas não há nem expectativas nem mesmo desejo. Uma boa desculpa para quem já não tem mais valor no mercado de compra e venda do amor, regados pelo clima confortável dos ares frescos e pelo perfume das lojas de shoppings.
E sobre a luz dessas reflexões, desejo que quando eu me conceber finado, eu tenha o mesmo destino da areia dos meus gatinhos. Que eu seja jogado em um saco preto e entre em decomposição em algum dos aterros sanitários do mundo, sem soluçar de damas, sem flores, sem choro e sem vela. Deixem-me partir.