Bom dia GALÃ
Eu tenho o costume de, ao caminhar pelas ruas, cumprimentar as pessoas.
Algumas me respondem ao cumprimento, mas muitas delas, emitem um som inexpressivo em resposta ao meu desejo de um bom dia ou de uma boa tarde e sérios e com rostos carrancudos seguem o seu caminho.
Mas eu não me importo e sigo cumprimentando pois os poucos que me respondem o fazem com tanta atenção e cordialidade que compensam a maioria que me nega ao cumprimento.
Fiz esta introdução para dizer da alegria que tive, hoje, em receber um bom dia, expresso de maneira singular.
Eu estava em frente ao Banco Santander em Capão da Canoa esperando o meu neto e a minha cunhada que tinham ido no banco Itaú que fica ao lado, quando à distância de meia quadra, vislumbrei uma senhora já idosa, modestamente vestida caminhando com o auxílio de uma Bengala.
O fazia lentamente em razão da dificuldade de movimentação de uma das pernas.
Ao aproximar-se de mim parou, na minha frente, o que me permitiu ver que era uma velha senhora que trazia no rosto as marcas impressas pelas dificuldades que a vida, certamente, lhe havia imposto.
Desencurvou-se o suficiente para que eu pudesse ver um sorriso maravilhoso seu rosto, embora, na sua boca tivesse, somente, um dente.
E com uma voz firme me disse:
Bom dia, Galã.
Recebi o elogio inusitado com uma satisfação inexplicável e com lágrimas nos olhos.
E ela me disse:
- Fiz questão de parar lhe cumprimentar porque, pelos seus cabelos brancos, o senhor deve ter mais de setenta anos e lhe dizer que eu tenho setenta e oito e que, mesmo com o peso da idade eu não me entrego e lhe aconselho a que, também, nunca se entregue.
Eu moro na Praia do Barco e venho de Ônibus receber a minha aposentadoria.
O Ônibus para a uma quadra daqui e eu venho, lentamente, com a ajuda desta muleta, mas venho e sempre que vejo alguém que acho que possa ter a minha idade eu paro, para cumprimentar e pedir que nunca se entregue.
Pego, de surpresa, por tão rara e espontânea manifestação de solidariedade e já com as lágrimas escorrendo, pelo meu rosto, mas incapazes de esconder o meu sorriso, ouvi ela pedir a Deus para me abençoar e me dar muitos anos de vida com saúde e, dirigindo-se a porta do Banco, mas ainda me olhando e sorrindo me dizer: Outra coisa galã quando alguém falar com o senhor e não lhe olhar nos olhos desconfie pois, com certeza, não é uma boa pessoa e, no mínimo, é falsa.
O meu neto chegou e me perguntou: Vô por que tu estás chorando? Olhei nos seus olhos e disse-lhe sorrindo: O vô estava falando com um Anjo!
Com certeza o meu neto não entendeu nada do que eu lhe disse.
Atravessamos a rua, entramos no carro e viemos para Capão Novo...
( Recanto da Ana e do Erner 03.12.24- Capão Novo)