Indé e a Souza

Ele é mais um dos trabalhadores na construção civil. Constrói casas, apartamentos, igrejas, etc. Só não construiu o seu barraco, pois vive de aluguel.

Seu passatempo favorito e disponível para os menos abastados é a cachaça e a maconha.

Certo dia, ao fazer um papelote de maconha eis que Indé, diminutivo de Indelfonso, não conseguiu fazê-lo, pois a pelica se rasgava toda. A pelica é o que ele chama a seda que cobre o papel branco que envolve os maços de cigarros.

Invocou-se e resolveu escrever para a Souza Cruz reclamando da qualidade da pelica. Como Indé é pobre, mas não é burro, colocou na carta que o uso de tal apetrecho era para enrolar um palheiro que ele fumava de vez em quando, quando não tinha dinheiro para comprar cigarros.

A Souza Cruz, cônscia de seu dever para com o contribuinte, respondeu com uma carta muito bem redigida pelo gerente de qualidade, pedindo mil desculpas e prometendo exigir melhor qualidade dos fornecedores de papel.

Indé conseguiu promover uma reviravolta na maior indústria de tabacos do mundo.

Indé ainda foi presenteado com um pacote de seda da melhor qualidade, vinda, segundo a Souza Cruz, do exterior.

Uma semana depois de receber a carta, Indé foi chamado na casa da vizinha para receber uma ligação telefônica de São Paulo. Era uma voz suave que ele não esquece, agradecendo pela carta e pedindo que o que ele precisasse era só pedir que eles atenderiam com o maior prazer. Hoje Indé defende a Souza Cruz com unhas e língua, que são usadas para tirar a seda do papel, para enrolar o seu baseado.

Aroldo Arão de Medeiros

29/12/2006

AROLDO A MEDEIROS
Enviado por AROLDO A MEDEIROS em 02/12/2024
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