As milhares de versões de mim mesmo
Às vezes, me pego pensando em quantas versões de mim já existiram. Tem a versão que acorda cedo e acha que vai conquistar o mundo. E tem aquela que, no meio da tarde, só quer um café e um lugar para sumir por uns minutos. Nenhuma delas está errada. Elas apenas dividem o espaço que chamo de eu.
A infância guarda a versão destemida, que escalava árvores sem medo de cair. Lá estava eu, rindo do risco, acreditando que a gravidade só funcionava para os outros. Essa versão ainda aparece de vez em quando, mas hoje ela é cautelosa, olha para a árvore e pensa nos boletos que teria que pagar se caísse.
A adolescência trouxe uma versão barulhenta, cheia de certezas e uma raiva que não sabia explicar. Queria mudar o mundo, mas não tinha ideia de como. Ela ainda vive em mim, só que agora fala mais baixo, prefere um debate tranquilo a um grito no vazio.
E há as versões que só os outros conhecem. Para um amigo, talvez eu seja o cara que sempre escuta. Para outro, o que some e esquece de responder mensagens. Para meus pais, ainda sou aquela criança que eles cuidaram, mesmo que eu tente convencer do contrário. Cada pessoa leva consigo uma versão de mim que talvez nem eu conheça direito.
Mas a verdade é que essas versões não competem. Elas se somam. Aquele que fui ontem ajuda a construir o que sou hoje. Aquele que serei amanhã, espero, vai olhar para trás e agradecer por algumas escolhas – e, quem sabe, rir de outras.
Eu sou um mosaico, uma colagem de tempos, erros, acertos e dúvidas. Algumas partes brilham, outras têm rachaduras. E está tudo bem assim. Talvez o que realmente importa não seja escolher qual versão é a melhor, mas aceitar todas elas. Afinal, são elas que fazem de mim quem eu sou: alguém que, apesar de tudo, ainda está aprendendo a ser.