Quando desdisse um adeus
Surpreender ou ser surpreendido ? Novidade ou Antiguidade? Familiaridade ou excentricidade? Será que tudo deve ser polarizado? Será que eu preciso escolher um, e, necessariamente excluir o outro? E se eu decidi não escolher? É errado?! E se eu decidi flertar com o erro? E, só de sacanagem, ele vier travestido de verdade? De calmaria? De vida? De paz?
E, se numa bela tarde de chuva, em meio a uma rajada de trovões eu optar por desdizer verdades? E, desvendar o infinito? Talvez, sem a venda possa abraçar meu erro mais antigo? Ou quem sabe desdizer um adeus?...ou dois?... quiçá três!
Ando meio assim: agarrada, associada, interligada e embasbacada com a oportunidade de desdizer adeus, “adeuses”. Se todos bem soubessem desdiziam mais...
É! Voltaria atrás. Com empáfia! Com Graça! Com vida! Eu bem entendo que estamos inseridos num contexto cultural que repugna o erro. É quase delirante assumir um erro. E gostar dele é a mais insana das insanidades. Quem em sã consciência admitir-se-ia falho, frágil, fugaz? É humanidade demais para a loucura! E desdizer uma ideia então? Falta-me adjetivos, caro leitor... (Escritora sem adjetivos? Pseudo escritora? Nada, apenas viciada em autenticidade)
Desdizer um pensamento. Desdizer uma convicção. Desdizer um plano. Parece que esse tal do Desdizer é um tremendo despautério. Seria o “despensar”. Como é que pode funcionar um mundo em que as pessoas estão libertas o suficiente para trocar de opinião? Quem controlaria quem? Será que ainda existiria um mundo, ou, iniciaria uma revolução do “des”... “Desdizer”, “desver,” “desrir”, “deschorar”, “desdançar”, desabrochar, deslanchar... É muita ousadia torna-se quem é. Ou seria o “destornar”? Desmoronariam conceitos, preceitos, certezas...
Estou num “desmovimento” constante. Tive a ousadia de desdizer um Adeus! E gostei! Fui carinhosamente surpreendida pelo meu erro de outrora. Desconversei por longas horas com meu erro, e... Pasmem! Voltei atrás, simplesmente “desvoltei”! Pedi Desculpas... e as culpas se foram. Espero que ninguém as encontrem. Espero que você as desencontre. Algumas vezes elas chegam por descuido ou por cuidado. Noutras elas brotam de mãos dadas com o descuido do cuidado. “Desbrotam”...E desbotam!
Como me sinto com o que eu desdisse? Quer mesmo saber? Desdizer aquele adeus me encheu de esperança. É como se eu resetasse os medos, os traumas, as expectativas. É como enxergar a transparência. É a oportunidade de experenciar a vida no mais alto grau de pureza. É sentir os sentimentos. É pensar os pensamentos. É falar as palavras.
Depois que desdisse o adeus, o sentir tornou-se repleto de micro sensações altamente confortáveis... Sinto cada átomo que há na energia do toque. É um furor que transcende o ápice do prazer. Desanuvia!
O pensar aprendeu a deleitar-se na altivez das trocas elétricas das micro sinapses; a contemplar todo o período que antecede pensar, e a observar o movimento das pré-ideias, dos pré-argumentos, a organização da preconcepção. É incrível. Deslumbra!
Já sentiu o sabor de cada fonema saltar-lhes os lábios? Não? Desafio lançado! É puro desvario. Sorver cada micro movimento arraigado ao som que o fonema exala a cada pronunciação. È puro deleite. Desbaratina!
Desdizer o tal Adeus foi revigorante. Desconstruí castelos e desenhei a autonomia. Redesenhei movimento. Ressignifiquei a inercia! Validei meu erro e fiquei muito grata pela conversa. Abracei a sua prosódia. Entendi o seu propósito. E me despedi...
Você já teve a grata surpresa de estar completamente errado ou errada? Já teve a ousadia de abraçar seu erro? Deveria tentar... Por quê?
Ah! Dia desses eu fui surpreendida pela excêntrica novidade do voltar atrás, encantei-me pela antiga magia que há em surpreender com familiaridade a nossa essência de felicidade.
Que bom que eu desdisse e voltei. (Re)Apaixonei-me pelo “Desadeus”!