12/12
Ainda não completamos as primeiras 24 horas de dezembro, mas em algum lugar, eu já sinto o cheiro de dezembro. Já escrevi aqui, em alguma ocasião, como o final de ano mexe comigo. Sou daqueles que chora facilmente com as campanhas de final de ano de casas de perfumaria e banco. Sabe aquela da Fernanda Montenegro pra o Itaú? Choro demais.
Da mesma forma que fevereiro pra mim tem cheiro de coisa nova, dezembro tem cheiro de renovo. É difícil colocar em palavras o que está na esfera do empírico, mas é isso: dezembro tem cheiro de coisa nova. Seja porque fiz 25 anos recentemente, porque estou concluindo meu primeiro ano como professor regente ou porque agora em dezembro se completa o décimo aniversário de um grande acidente doméstico que sofri - e sobrevivi sem sequelas, nesse fim de ano estou ainda mais tocado pelas mudanças da vida.
As últimas semanas foram de conclusão de ano escolar. Fechar conteúdo, me despedir dos alunos, dar abraços, receber agradecimentos; tudo isso me jogou de volta nas minhas experiências escolares quando eu era aluno. Desde que cheguei na vida adulta, aderi ao discurso que minha infância foi marcada por traumas, que a experiência escolar não foi bacana e que dali não sairiam boas lembranças. Não me recordo de ter batido esse texto pra o meu analista, mas ouvindo esse relato, ele diria o que costuma dizer quando chego até ele com verdades tão absolutas: “nada, pedro? não teve nada bom? tudo foi ruim?”.
Talvez ficássemos nessa de tentar encontrar o que foi bom, o que eu esqueci que foi bom, o que eu não entendi que foi bom; mas a vida me fez economizar etapas, esbarrei num vídeo de fim de ano do Guanabara. Comercial antigo, 2005. Aquela musiquinha cantada pelo Leonardo. “eu acredito que esse meu natal, vai ser o melhor natal”. Chorei assistindo aquele vídeo pixelado de 30 segundos. Durante 30 segundos eu fui nostálgico, e observo a nostalgia como uma tentativa de acessar o passado, de viver novamente a sensação, de experimentar novamente aquela lembrança boa.
De repente eu tinha 6, 7, 8, quem sabe 9 anos, estava concluindo o ano letivo escolar, já naquele climinha gostoso de missão cumprida e ansiedade para os desafios do ano letivo seguinte. De repente batia uma ansiedade sobre o natal, a família nunca foi lá tão unida, brigava bastante, o pai não tava presente, era só a mãe… mas isso não importava durante aquele comercial. Durante aqueles 30 segundos, eu sentia a pureza que só as crianças são capazes de sentir. De repente eu acreditava que aquele seria o melhor natal da minha vida, ainda que, em muitas situações, não fosse.
Isso aqui não é sobre a minha frustração com o passado, mas sobre a descoberta sobre mim: eu acreditava. A vida não era fácil, perfeita e leve, mas eu acreditava que ela seria melhor. Eu acreditava.
O passado não foi de todo mal. Teve algo de bom. Teve muitas coisas boas. E quando não eram tão boas, assim como na campanha de natal, eu acreditava que seria. Não sou nostálgico, mas ao longo desse mês, vou ser um pouquinho. Esse mês que encerra o ano de grandes mudanças e desafios na minha vida, eu escolho acreditar. Acredito no melhor. Acredito que vou transpor os intransponíveis. Acredito na vida. Acredito que vai dar certo. Escolho acreditar. E se você não conseguir acreditar, eu vou acreditar por mim e por você. Eu acredito.