O PARALELO ENTRE OS APOIADORES DE BOLSONARO E HITLER

Ao longo da história, líderes carismáticos emergem em momentos de crise e conseguem mobilizar massas com promessas de redenção nacional. Jair Bolsonaro e Adolf Hitler, embora separados por contextos históricos, culturais e políticos radicalmente distintos, compartilham características que ajudam a compreender as motivações de seus apoiadores e o impacto de suas lideranças. Não se trata de igualar os dois, mas de identificar padrões que atravessam o tempo e as sociedades.

Ambos ascenderam em cenários de insatisfação popular. Bolsonaro, no Brasil, conquistou seguidores em meio ao descontentamento com a corrupção política, a crise econômica e a polarização ideológica. Já Hitler, na Alemanha do período entre guerras, encontrou terreno fértil no desemprego, no ressentimento pelo Tratado de Versalhes e na busca por estabilidade após anos de instabilidade política. Em comum, seus apoiadores viram neles a promessa de ordem e de um futuro grandioso, ainda que a um custo elevado.

O apelo ao nacionalismo é outro ponto de convergência. Apoiadores de Bolsonaro exaltam a bandeira brasileira, o hino nacional e slogans como "Brasil acima de tudo", enquanto os seguidores de Hitler viam no nazismo uma oportunidade de restaurar a grandeza da Alemanha, com ênfase na pureza racial e na superioridade germânica. Em ambos os casos, a identidade nacional foi manipulada para unir as massas em torno de um ideal e justificar políticas excludentes.

A desconfiança nas instituições também é um elemento comum. Os apoiadores de Bolsonaro frequentemente manifestam ceticismo em relação ao sistema judiciário, à imprensa e a organizações internacionais, vendo-os como adversários da soberania nacional. Na Alemanha de Hitler, os nazistas descredibilizavam a República de Weimar, associando-a a fraquezas e traições, e usavam essa narrativa para justificar a concentração de poder. Esse sentimento de que as instituições estavam falidas ou eram inimigas alimentou o desejo por lideranças fortes e centralizadoras.

Outro paralelo está na identificação de inimigos internos e externos. No caso de Bolsonaro, os alvos mais comuns incluem comunistas, minorias organizadas, ONGs e o "globalismo". Já o nazismo construiu sua base em teorias conspiratórias contra judeus, marxistas e elites internacionais, usando esses grupos como bodes expiatórios para problemas complexos. Ambos os líderes se beneficiaram do uso de discursos polarizadores que criaram uma sensação de ameaça constante e necessidade de união em torno de um salvador.

A moralidade e a religião desempenham papéis centrais nos dois casos. No Brasil, Bolsonaro se consolidou como o candidato dos valores cristãos, especialmente entre evangélicos, que o veem como defensor da família tradicional e da moralidade religiosa. Hitler, embora não fosse um líder religioso, utilizou símbolos e discursos cristãos para justificar sua ideologia, apresentando o nazismo como uma força moralizadora para a Alemanha.

Por fim, a figura do líder carismático é crucial para a consolidação dessas bases de apoio. Bolsonaro atraiu seguidores com seu discurso direto, sua postura de "homem comum" e sua retórica de enfrentamento à elite política. Hitler, por sua vez, era um orador magnético que personificava as aspirações de grandeza do povo alemão. Em ambos os casos, a identificação com o líder ultrapassou o campo político e se transformou em um fenômeno quase pessoal, onde o líder é visto como o único capaz de conduzir o país ao sucesso.

Apesar das semelhanças, é fundamental reconhecer as diferenças contextuais. Bolsonaro opera dentro de uma democracia, ainda que com tendências polarizadoras e autoritárias, enquanto Hitler liderou um regime totalitário responsável por uma das maiores tragédias da história. No entanto, o estudo desses paralelos serve como alerta para os riscos do populismo autoritário, que se aproveita do medo, da divisão e da fragilidade institucional para consolidar poder e restringir liberdades. Afinal, os padrões podem variar, mas os perigos permanecem os mesmos.

Misael Nobrega
Enviado por Misael Nobrega em 30/11/2024
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