Vida em linha reta

Não tinha nenhuma noção do que havia passado com os negros no mundo, sequer sabia ser uma negra! Uma das piores coisas que foi feita foi o apagamento dessa identidade. O que aconteceu para que meus antecessores, meus avós e os que vieram antes.

Sempre foram pobres e alguns deles escravizados. Por isso a dificuldade de encontrar documentos. Os que foram escravizados não tinham registro e se tinham usavam o sobrenome do senhor. Usavam apenas o primeiro nome. Poderiam ter nascido no país ou em África. Os de descendência europeia, se pobres, nem eram registrados, pelo alto custo do registro. Na verdade isso torna praticamente impossível ter uma árvore genealógica. Busquei minhas memórias, minhas vivências numa busca inglória pela minha memória!

Muita coisa aconteceu depois alisar o cabelo praticamente cinquenta anos negando o que foi apagado. Fingia não perceber, que mesmo de cabelo "liso" era escrava de um modelo para manter um ideal. Não podia molhar para não desfazer o cabelo. Assim, não vivi a fundo muita vida para não desfazer o sonho.

Quando criança, meu pai foi sócio de um clube e frequentávamos a piscina, meus irmãos se esbaldavam e eu cheia de "não-toques" que são comuns para as meninas, ainda não desfazer o cabelo! Namorei, casei e recomecei, demorei a me descobrir, mas me libertei! Conheci a Sandra e a força dela! Tudo isso na adoção da Yasmim!