A MENINA DE OLHOS AZUIS, MINHA MÃE
Uma história linda!
Nesta vida uma pessoa pode se destacar por mil gestos ou diversas atitudes. Minha mãe se notabilizou em ações que ainda povoam vivas em minha memória.
Além da beleza poloca que lhe era peculiar, encantava pelo seu espírito sempre jovial e espirituoso.
Nunca a vi triste a não ser por uma vez. Lembro-me perfeitamente, em Arapongas, tinha eu meus 4 anos e a vi chorando. O pai tinha dado de presente um corte de vestido em seda, presente especialíssimo pelo valor que tinha a seda naquela época. A mãe costureira experiente acabou errando um corte e chorava inconsolável dizendo para mim: - Não é nada, eu darei um jeito. E deu. Tenho, até hoje na memória aquele vistoso e florido vestido de seda. Meu pai olhava feliz.
Lembro-me também das lágrimas correndo pela sua face ao me abraçar em despedida quando seguia rumo ao Seminário. Se Deus me permitisse voltar ao tempo, jamais teria me ausentado de casa. Estas lágrimas ainda me incomodam muito. Fui um filho ausente!
Essa mulher, que amo e que me protege, onde ela estiver, nunca se amedrontou frente aos imprevistos. Foi assim que, quando nos festejos dos seus 50 anos de casada ela subiu ao palco e proferiu um belo e emocionante discurso de agradecimento aos inúmeros convidados na casa da Amizade em Nova Esperança. Fiquei de queixo caído. Orgulhoso queria gritar; - Essa é a minha mãe!
Ela era, para nós, seus filhos festeira, brincalhona, gaifona, alegre e muito mais. Tudo está indelével marcado cá para mim. Está fotografado na minha retina. Gostava de jogar trilha e é claro sempre dava um jeitinho de mãezona ao perder para levantar o nosso ânimo de perdedores desanimados. Assim também era nos jogos de dama ou de palitos.
Sempre inventava e punha o pessoal em atenção para a grande disputa de quem a pior careta fizesse. Suas caramunhas eram inimitáveis e nos divertia bastante.
Quando parecia que nada mais teria em arena lá vinha ela com papeis e caixa de lápis de cor toda alegre falando: - Vamos ver quem melhor desenha! Como gostaria eu de ter comigo estes desenhos!
Ainda me lembro dela soprando ao vento a flor que se assopra e admirado vendo como pequenos guarda-chuvas brancos indo em bandos dançando no espaço.
Também me lembro dela como uma habilidosa contadora de história. Ela lia o livro SEPULTADA VIVA” e à tardinha, sentados a seus pés eu e minhas manas nos embebia da história e nos entristecia imaginado a coitada donzela que presa, acorrentada no calabouço de um castelo sofria na solidão.
Foi uma sábia e protetora mulher. Quando ameaçava uma inevitável tormenta, ela cautelosa colocava o lençol por cima da mesa da sala, fazendo ali uma cabana nos albergando lá. O pavor dela era que uma telha se desprendesse do telhado e viesse atingir nossas cabeças. A casa era singela sem foro. Quando chovia eu gostava de ir brincar, dançar na lama e soltar barquinhos de papel na enxurrada. A chuva começava e ela dizia: - Agora não meu filho, O céu está sendo lavado e tem muita sujeira lá em cima. Daqui a pouco você vai e lá vinha ela com o origami barquinho de papel.
Me intrigava a chuva e o barulho os trovões e ela explicava:- São Pedro está lavando o céu e os móveis estão sendo afastados provocando esses barulhos.
Minha mãe sem ter feito medicina veterinária era eximia médica dos bichos. Hora consertando as asas quebrada de um pássaro; hora costurando o dorso de uma galinha que um galo tarado e bruto arregaçou; hora fazendo pacientemente fisioterapia em um gato que tinha nascido troncho. Era Maria de São Francisco.
Em tudo minha mãe exercia um admirável fetiche. Dizem que ela morreu, mas para mim não. Ela permanece viva graciosamente bela contando histórias e brincando com a gente.