Poder
Tentam nos destruir desde o momento em que vimos a este mundo, nossas células, nossos corpos, nossos sentidos de pertencimento, tudo, a cada instante, é combatido pelo que sequer temos conhecimento, o mundo, como um todo, é construído para isso, nossa efemeridade é o que nos acompanha pela eternidade.
Além dessa luta invisível contra o desconhecido para nos manter inteiros, travamos uma luta silenciosa contra nós mesmos, não é fácil ser o que e quem somos, nossos pensamentos, nossos sentimentos, nossa razão, não são de todo confiáveis, nos pregam peças infindáveis, é uma luta hercúlea para nos mantermos mentalmente estáveis.
Não bastasse tudo o que enfrentamos, do nascimento à morte, nessa luta contra nós e o além de nós, ainda nos deparamos com o outro, que em sua busca individual de se manter inteiro, se torna capaz de nos destruir por dentro, por vezes sem intenção, é ele sendo ele, nós é que, por infelicidade, cruzamos seu caminho, seja pelo sangue, afinidade, ambição, ou pelo que clama o coração, noutras por alimento do ego, escárnio, seja lá pelo que seja, por pura diversão.
Quanto ao universo não tem o que ser feito, é o ciclo natural da vida e não tem como ser desfeito; Quanto a nós, somos senhores de nossa consciência e temos todo o poder de, com o estimulo certo, não cairmos no abismo de nossa existência; Agora, quanto aos outros, seu poder é limitado, só hão de nos atingir se lhes dermos permissão para tal ato.
Damos esse poder ao outro quando, por querer fazer parte de algo, deixamos de ser quem somos para nos tornar quem sequer imaginávamos, nos submetendo a torturas psicológicas, físicas e emocionais, lavagens cerebrais que têm unicamente a função de nos nivelar ao que precisam para se perpetuar; Quando, por insegurança e desconhecimento de nós mesmos, ultrapassamos os limites do aceitável, do saudável, do tolerável e nos colocamos em segundo lugar, enaltecendo o outro, elevando-o à um pedestal em que ele jamais deveria estar; Quando, por amor, deixamos de nos amar para tê-lo, o amor, seja ele romântico, fraternal, paternal, não é incondicional, não podemos deixar de lado a razão para viver algo que não tem sentido nem para o coração.
Assim, se dermos ao outro o poder de nos destruir, estaremos assinando nosso atestado de óbito, uma morte não natural, mas não um homicídio formal, um suicídio brutal, nós nos causamos isso, somos os únicos culpados a serem responsabilizados.
Para o nosso próprio bem, teremos, sim, que tomar uma, ou várias decisões difíceis que partirão nosso coração, mas trarão paz à nossa vida, nos manterão inteiros, mesmo partidos em pedaços, para lutar por nós mesmos e ocupar nosso devido lugar no tempo e no espaço.
Para não sucumbirmos ao outro e nos tornarmos donos de nosso próprio caminho, de algumas reticências precisamos tirar dois pontos, não precisa ser de pronto, mas deve ser um ponto, guardar o que há de melhor a quem demonstra que merece o lugar que deseja ocupar e NUNCA negociar nossa essência, o preço é alto demais a se pagar e no final estaremos sozinhos juntando os cacos de uma alma que só pretendia amar.