NATAL DE RISOS E LÁGRIMAS
A época natalina me faz chorar nem sei mesmo por que razões. São inúmeras deveras, imagino pois irrompe n'alma um volume tão imenso de emoções desencontradas, no coração explode aquele acúmulo exagerado de sentimentos de tal forma, que, percebo, torna-se impossível definir qual delas ou entre eles dispara o gatilho impetuoso e arrasador das lágrimas.
Ouço as melodias típicas do período, as pessoas sorrindo e entoando cânticos próprios do momento, as ruas sendo enfeitadas com motivos de dezembro, o ar festivo por onde passo, as películas cinematográficas exibindo filmes e séries onde a neve se debruça sobre as casas, os fios elétricos, os postes e as árvores, então inesperadamente soluço, deixo-me conduzir pelo pranto.
Gosto sobremaneira desse tempo natalino e gostaria bastante de abrir-me, derreter-me sim em sorrisos, mas não consigo. Ainda que amando o instante, embora deseje também celebrar, sair por aí como em um coral cantando para alegrar a cidade. Mas não, apenas e tão-somente choro imerso nalgum misto de tristeza e satisfação indescritível, aquela desmotivada, bem sei, esta desnorteada se bem plausível.
Sempre foi assim ao longo dos meus anos. Ao tempo em que me alegrava ante o badalar dos sinos e o corre-corre feliz dos demais, no âmago o triste silêncio imperava. Lutando contra a dualidade emotiva, só me restava desabafar chorando, participar dos festejos escondendo o êxtase exterior e a depressão nascitura da alma, ambos se digladiando com o intuito de prevalecer.
Em não havendo nem vencido nem vencedor no turbilhão das emoções, por desfecho vinham as lágrimas. Provavelmente todos os meus natais serão assim, consolidada que está no recôndito de mim essa disputa emocional entre o me alegrar e o me entristecer quando o natal se vislumbra.