> Desabafo de uma mulher <

Casei-me aos 20 anos. Tive cinco lindos filhos. Um esposo que me amava, mas que depois mudou. Bebia e arrumava mulheres na rua...

Um dia, após ele se saciar por lá, obrigue-lhe a fazer amor comigo. Mas aquilo não era fazer amor. Foi nojento. Queria apenas lhe provar que pegando alguém fora de casa deixava a esposa a ver navios.

Chegamos até onde suportei. Sua amante morava em frente da minha casa . Eu o via sair de lá quando se demorava chegar e para ter certeza eu ficava escondida atrás do meu portão.

Ver meu esposo numa traição tão sórdida foi o fim da minha vida. Inda assim suportei até não aguentar mais.

Um dia, meu cunhado (esposo de minha irmã), me visitou e esperou meu esposo chegar. Mesmo estando filhos e sogra em casa conosco, ele (meu esposo), dissimulou ciúme. Quis me espancar ao que parecia. Minhas irmãs chamaram a policia pra aconselhá-lo, por estar muito nervoso (por não dar ouvidos a ninguém), enquanto eu esperava atônita fora de casa, que tudo se apaziguasse pra poder entrar e cuidar de meus filhos ainda pequenos. Ele enfrentou a polícia. Desacatou autoridade. Só vivemos até aquele dia.

Uma semana depois, minha filha caçula completava dois anos de idade, ele entrou em casa, pegou suas coisas e se foi...

Talvez por isso essa filha hoje sofra problemas de coração, e eu viva assustada, com medo dela ter uma crise e eu a perder.

Que posso te dizer de mim?

Uma vez separada, enfrentei o castigo de viver sem a pensão do ex-marido. Criar cinco filhos, sozinha, ainda sustentando minha mãe, era por demais desafiador. Mas desafios, era o que eu mais sabia enfrentar. Gostava de trabalhar...

Decidi NÃO casar novamente, para não correr o risco de ouvir mais tarde alguém alegar que me pegou na pior das situações...

Por falta de um pai pra orientar, por ser revoltada, por achar sabe Deus o que, minha filha mais velha entrou no mundo das drogas. Ali, foi realmente o fim para mim. Lembro o dia que chorei desesperadamente o fato de ver que perdi minha filha...

Nesse mundo que entrou, ela arrumou uma filha. Mas não foi pra ela. Foi pra mim (quem sabe por que minha caçula vivia pedindo uma irmãzinha, e eu não tinha como dá-la?).

A Talita nasceu de uma gravidez problemática, por causa das drogas, num parto de risco, parto super prematuro, onde quem não entendia não definia o seu sexo. A recebi em meus braços desde o momento que chegou da maternidade, e assumi.

À noite, a Talita dormia dentro de minha camisola, tão grande que era (pesou menos de dois quilos). Servi de encubadora pra ela. Aos dois meses morreu e ressuscitou por causa de uma pneumonia. Choro ao lembrar nosso desespero naquele dia. Já amávamos Talita. Graças a Deus ela sobreviveu. É uma criança super inteligente e linda.

Meus filhos. Meus troféus. Sim porque a mãe da Talita conseguiu superar as drogas. Hoje aquela minha filha, voltou realmente a ser minha filha. E foi ela quem me deu a que ocupou o lugar da minha caçula, a de número seis. Eles são exemplos de pessoas de bem.

Com meus filhos criados (c/ exceção da Talita, ainda pequena), e quase todos formados; no nível fundamental, prontos pra faculdade, entreguei-lhes, o restante da responsabilidade com os estudos... Tentei cuidar de mim. Agora eu queria voltar a escrever, namorar e casar outra vez. Ser feliz de verdade.

Tive alguns amores, interesses... Ilusões. Sonhos de um viver a dois. Com nenhum debulhei. Mantive a dignidade e a decência.

Hoje praticamente realizada, publico no Recanto minhas inspirações, algumas que achei os rascunhos. Momentos de amor, momentos de dor, de decepções, de sonhos, planos, frustrações e visões de um mundo melhor, colorido, de iras, de paz... Provas de que estou inteira e pronta para amar... Desabafos de uma mulher.

Rego todos os dias uma plantinha chamada esperança. Esperança de poder ser realmente mulher de um homem sincero, trabalhador, sensível e fiel. Mesmo em meio ao deserto, vejo esperança crescer. Ainda a Verei grande, viçosa e linda.