UMA PÁGINA EM BRANCO
Uma p ágina em branco, é ela, só ela, totalmente vulnerável às palavras que, aleatoreamente, serão ali plantadas, injetadas, nela, toda branca, pura, intocada.
Frase por frase, palavra por palavra, uma a uma, cada uma delas convocadas para expressar o que não se expressa, não desta forma, não com estas palavras.
As interrogações, as exclamações, vão surgindo do nada, atropelando tudo.
Nem tempo tem para pensar.
Nem tem respostas.
Os pontos, as vírgulas, todos, juntos ou não, são pequenas interrupções que, invariavelmente inoportunas, quebram a sequência do que foi imaginado, ou não.
Necessários ou não, se sentem senhores de tudo, lógico, com o intuito de controle: controlar tudo, a frase toda, a seu bel prazer.
A folha, antes branca, agora está repleta, completa, cheia de verbos imperativos: hiper-ativos.
Prontos para atravessar este deserto sem voz, este panorama quase poético, proseado, enfeitado de pensamentos, ideias, talvez ideais, futuristas, prestes a realizar o sonho de preencher tudo.
A página toda.
A página branca.
A página sem fim.
O infinito não expresso por palavras.