Fiu-fiu
Quando eu era criança, queria saber assoviar. Achava o máximo ver os adultos assoviando: meu pai chegando do trabalho assoviava alguma moda de viola; minha mãe assoviava alguma música dos Beatles quando fazia bolo (principalmente o de chocolate, meu preferido). Na minha cabeça, assoviar era coisa de adulto inteligente e responsável.
Minhas primeiras tentativas foram completamente frustradas. Fazia bico e assoprava, e som algum saía. Tentava outra vez e quase cuspia sem querer. Ficava enfezado. Ia em frente ao espelho e fazia diferentes tipos de bico: mais aberto, mais fechado, com as bochechas cheias. Mas o mais próximo que eu chegava de um assovio era um som chocho que, com muito esforço, lembrava uma nota quase inaudível de flauta doce.
Pedi para minha mãe me ensinar. Ela riu e disse para colocar a língua para trás e assoprar. Tentei, sem êxito. "Não tanto para trás". E então, uma nota aguda e cristalina soou pela sala de estar. Dei um sorriso de orelha à orelha. Eu havia finalmente dominado a importante técnica do assovio.
Sai assoviando pela rua, cheio de mim. Peito estufado, nariz empinado, passos largos. Quando aprendi a assoviar, cresci alguns centímetros.