Goleiro patinho feio
Vou colocar com minhas palavras uma crônica contada por Armando Nogueira, que copiou de outro cronista que não lembro o nome. Um time recebe um garoto para fazer testes. O garoto timha uma habilidade indescritível, um chute forte e era tudo que o técnico precisava para o seu time. O técnico, seu Claudino chama o rapaz e pergunta o seu nome:
- Ivanilson. Responde o jovem.
Pronto, seu Claudino franze a testa e lhe fala:
- Seu nome de agora em diante vai ser Ivan.
- Não, meu nome é Ivanilson, retruca o garoto meio triste.
- Tá bem, então vai ser Vavá.
- Não, meu nome é Ivanilson.
Discutem e não chegam a um acordo. Seu Claudino encerra a questão proferindo com ênfase:
- Moleque com esse nome você nunca vai ser jogador de futebol.
O garoto vai embora, triste, quase chorando.
Um mês depois o time de seu Claudino enfrenta o arquirrival. Um moleque serelepe faz a festa. Faz 2 gols e inferniza o adversário.
Seu Claudino desconfia que conhece aquele número 10. Chama o roupeiro e pede para ele ir no banco adversário saber o nome do artilheiro. O roupeiro vem com a seguinte resposta:
- O nome dele é Teimoso.
Esta história não tem nada a ver com o que eu vou narrar. Ou eu estou quebrando o gelo ou enchendo linguiça. Vamos ao que interessa.
Marco Antônio é o goleiro da Seleção Brasileira de Futebol de Salão. Acompanhei toda a carreira desde o tempo de Fraldinha. Fraldinha é a categoria que vai até 8 anos de idade. Marco Antônio teve incentivo do pai e espelhou-se em seu irmão mais velho. Esse irmão era muito bom goleiro e ele queria seguir a mesma carreira.
Acontece que havia um rapaz que era mais velho que ele com a diferença de somente 1 ano e ele foi então jogar na linha.
Tanso era um elogio que se dava a ele. Era duro, não sabia chutar. Posição: Batedor de lateral. Com essa qualidade ficou um ano entrando e saindo do time. Até que no outro ano o lateral passou a ser batido com os pés.
Quase desistiu do futsal, futebol e todo esporte que mencionasse pés. Certo dia seu time: o Associação dos Bancários da Comunidade do Distrito de Florianópolis, o ABCDF enfrentou o Nova Esperança. O ABCDF precisava da vitória. O jogo se arrasta no zero a zero, quando o técnico manda Marco Antônio entrar. Ele não sabe se defende, se ataca, pois, defender ele não sabia e atacar muito menos. Sobra uma bola para ele, alguém berra, chuta. Ele fecha os olhos e chuta. A bola vai morrer no fundo das redes. Correm para abraçá-lo e aí ele percebe, fizera o gol. Azar do técnico, deixou-o na quadra.
Falta um minuto para terminar o jogo. Bola no meio da quadra, alguém berra: chuta. Ele erra em bola, se vira e pimba, bola na gaveta, gol contra. Daquele dia em diante passou a treinar de goleiro.
Aprendeu a chutar. No ano seguinte foi campeão estadual.
Posição: goleiro e titular para quem não acreditava.
No dia de seu aniversário, jogando contra o Lobato, a partida está de 1 a 1. Marco Antônio segura firme uma bola e coloca a mesma fora da área para chutá-la. Seu homônimo, do time adversário coloca o pé na frente travando a força do chute. O chute, então, sai mascado e alto. Quando a bola desce próximo ao goleiro adversário pega o efeito e o engana. Gol de Marco Antônio, gol da vitória.
Com o tempo foi colhendo vitórias, títulos e medalhas.
Certa vez a categoria superior à sua, numa excursão sofreu um acidente. O micro-ônibus capotou. Muitos se machucaram e ele como não pertencia a essa categoria não estava no ônibus. Esqueci de dizer que Marco Antônio era feio, muito feio. Se um fantasma viesse assustá-lo sairia assustado. Um mês depois do acidente ele substituiu o goleiro que estava se recuperando do acidente. Dois garotos que não o conheciam e souberam do acidente comentaram. Vê o goleiro, como ficou com o rosto deformado.
Hoje ganha muito dinheiro e já fez plástica suficiente para não ser chamado de patinho feio.
Aroldo Arão de Medeiros
02/09/2006