Um colapso de começo de ano
Fazia muito tempo que não via Gabriela. Liguei para ela para batermos o primeiro papo do ano. Pensei que fosse ser bom e foi, mas não pelo motivo que eu imaginava.
- Alô! Gabriela?
- Não era sem tempo!
- Que bom te encontrar em cas...
- Você já passou por um momento em que quis fugir de tudo? Fugir do mundo?
- Claro. Quem nunca teve algo do tipo!
- Então, ouça. O meu foi mais ou menos assim...
2008 mal havia entrado em cena, estava no seu quarto dia.
As pessoas ainda viviam aquela felicidade de estarem vivas por mais um ano. Todo mundo sorria, um riso diferente, um riso novo.
Um riso de Ano Novo. Eu... eu continuava a mesma. Não aguentava mais ver aqueles risos, ouvir aquelas músicas, ver aquela gente... fui entrando em colapso. Como todos poderiam estar tão felizes e eu, tão triste.
Motivo? Nenhum mesmo. Só tinha me cansado daquela coisa de início de ano. Os primeiros momentos logo passariam e todos voltariam para suas casas, para viver sua vidas medíocres esperando pelo outro ano.
- Gabriela?
- Ouça, apenas ouça! Sabe o que eu fiz? Peguei meus chinelos e fui direto para o melhor lugar que poderia, a areia e o mar. Quando cheguei, aquelas águas pareceram me abraçar. Eu já era outra. Conversei com as ondas, com as conchas, com um pequeno siri. E sabe o que me disseram?
- Que você estava suja de areia?
- Ah, cale a boca! Eles me disseram que esse ano seria melhor, que eu conheceria pessoas novas, enfrentaria novos desafios, que eu seria feliz, mas teria que me desapegar de certas coisas antigas. Você pode imaginar quais.
- E por que seria diferente disso?
- E se eu não conseguir me libertar de todo aquele passado?
Gabriela é um pouco de mim e eu, um pouco dela.