Gilberto e Gilmar:
Gilberto e Gilmar nasceram no mesmo dia. São gêmeos univitelinos, idênticos, mais que isso, são iguais. Vozes, risos, sentimentos, tudo igual.
Sua mãe, Dona Roberta ou Bonitinha como era conhecida, vestia-os com roupas iguais. Quando um rasgava a calça curta ela costurava um remendo e fazia o mesmo com a calça do outro sem ter-se rasgado.
Caçavam passarinho, roubavam laranja e estudavam bastante.
Gilberto e Gilmar cresceram saudáveis e aos dezoito anos foram servir o exército. Tiveram que transferir Gilberto para a Capital, pois os dois confundiam seus superiores e as trapalhadas eram intensas.
Quando jovens começaram a namorar, e nos bailes um casal que fosse solteiro só podia dançar uma “marca”. Os dois dançavam duas marcas e diziam que era o outro se inquirido pelo segurança do salão.
Certa vez Gilmar aprontou no Salão do Seu João Tatu e colocou a culpa em Gilberto. Sem saber de nada, duas semanas depois Gilberto foi dançar e dançou mesmo, pois não o deixaram entrar no salão. No próximo baile ele se vingou, entrou no salão dizendo que era Gilmar e espalhou pó de mico, saiu de fininho antes da coceira se espalhar em todos. Desta data em diante proibido ficaram os dois de adentrar no Salão de Seu João Tatu.
Ambos tinham na veia a música e formaram uma boa dupla de cancioneiros, mas com o casamento a dupla musical foi desfeita.
Separaram-se, mas cada um foi para a Banda Musical de sua nova cidade. Gilmar entrou na Banda de Amor à Arte de São Francisco do Sul e Gilberto na Banda de Amor à Musica de Itajaí.
Gilberto teve oito filhos e Gilberto outros oito.
Um dos netos de Gilberto quando tinha seis anos, estava no carro com seu pai, Roberto, sua mãe e seu avô. Passeavam em São Francisco e conversavam com Gilmar. Quando saíram, o netinho André, saiu com a seguinte frase: Eu tenho três “vô”: o “vô” Gilberto, o “vô” Renato e aquele homem – apontou com o dedo, o menino.
Outra vez a Banda de São Chico foi até Itajaí e a confusão na cidade foi grande. Nesse dia os filhos de Gilberto não confundiram o pai com o tio por um detalhe, seu Gilberto estava com o pé machucado e calçava sandália num dos pés. Os filhos nessa tarde andavam só olhando para os pés do pai e do tio.
O pessoal da cidade é que criticou seu Gilberto por ter tocado na banda da outra cidade.
Certa vez, Gilberto, em São Francisco, esperava o ônibus na BR para ir visitar o irmão, quando passou o carro do Padre Claudino Schilickmann, pároco da Igreja Matriz de Itajaí e ao Gilmar ofereceu uma carona, pensando que fosse Gilberto. E como Gilmar conhecia o Padre de vista, não se atrapalhou na conversa durante a viagem. Na entrada da cidade, já com a carona garantida, ele desvendou o equívoco. Padre Claudino pareceu reprovar a brincadeira e deixou-o na frente da casa de Gilberto e se foi. Gilmar, num outro dia estava no centro de Itajaí, novamente esperando o ônibus para o Bairro Manoel Gomes onde morava o irmão. O Padre Claudino passou e parou o carro oferecendo carona:
- Gilberto, na semana passada confundi o seu irmão com você.
- É Padre Claudino, o senhor confundiu de novo. Sou o Gilmar e não o Gilberto.
Daquela situação o Padre deu boas gargalhadas.
Gilberto e Gilmar trabalharam até aposentarem-se nos portos de suas cidades como conferentes de cargas como, farinha de mandioca, feijão, madeira, carvão etc., que chegavam ou saiam de navios. O navio Soriedem atracou no porto de Itajaí, oriundo de São Francisco. Gilberto e os amigos conferentes José Dezesseis, Sidney Torquesa e Edson Guaiaca estavam no cais no exato instante que o navio atracou.
Gilberto falou aos amigos:
- Vamos ver se o Gilmar veio nesse navio?
- É, é possível.
Respondeu José Dezesseis, enquanto abaixaram-se e observaram pela vigia do navio.
Gilmar cumprimentou o irmão disse aos seus amigos:
- Tinha certeza que viria. Coração de irmão não se engana.
Comentou Gilberto envaidecido. Sidney Torquesa abaixou-se novamente e falou:
- Gilberto, como é que pode o seu irmão estar aqui, se eu também estou lá no camarote?
Riram todos. A vigia ficava em frente a um enorme espelho.
Aroldo Arão de Medeiros
19/08/2006