FOI QUANDO SE SORRIU EM LENÇÓIS... os sons de violão despejaram nostálgicas notas, que denunciavam as boas novas; de que o mundo AMA MÚSICA BOA, ainda que ame também as músicas que, definitivamente não são.


Todos se concentravam em volta do palco e não se davam conta da quantidade de gente morta que saía dos bairros, becos e túmulos... Saíam dos porões de suas casas, ralos de banheiros, saíam do lugar que morreram ou foram abatidos ("de susto, de bala ou vício"). Saíram para dançar, rebolar, se requebrar diante daquele som. Eu os via... Eu sentia suas presenças, sentia seus cheiros. Peguei um caminho por onde o máximo de seres vivos (feitos de carne) que vi foi um casal de rapazes que descia agarrado num amor, que possivelmente era um amor novo. E livre... E ainda sem feridas. Tudo transbordava em silêncio, diante do fato de que esse amor parecia reger a posição da lua.
Talvez tenhamos atingido naquela noite uma quantidade "X" de horas sem ódio, que atrelada ao processo evolutivo, nos faça voar (mas se todos voam ao mesmo tempo, quem olhará pra cima ou pra baixo e exclamará que um humano está no ar?). Mas não importam as "estirpes" e os "pedigrees espirituais"... Sei que brotaram fantasmas do chão e resolveram deixar suas obsessões de lado, suas vinganças, apegos... A bandeira de trégua do umbral Lençoiense foi posta num haste invisível entre o rio que passava forte. Entre os casarões que hoje abrigam bares, restaurantes e que já foram de tudo... Bem no meio da pista havia uma bandeira e homens e mulheres gigantescos e fortes, PRETOS. De olhos negros como os discos que tanto careço escutar... Uma reunião de regentes se formava ali, regentes da vida e da morte. Não queriam oferendas, pedidos, orações. Não dessa vez... NADA em suas homenagens.

 

H.B

 

Foto: @chapadadiamantina_nationalpark

Henrique Britto
Enviado por Henrique Britto em 23/11/2024
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