Sinal vermelho

Final da década de noventa , a Pedro Álvares Cabral escura como sempre apresentava o tráfego de mão dupla.  Por ser uma extensa via, que se estende do Entroncamento as Docas do Pará, em muitas versões, principalmente a noite é trafegada pelos motoristas como uma auto pista,  sem regras ou proteção, para eles e para os pedestres.

Foi assim,  que aquela noite,  ficaria marcada na vida de uma família e de todos do local,  que conheciam o vitimado.

Minutos antes do acidente, Júnior estava bebendo com seus colegas, quando por insistência de sua namorada e também pelo dispersamento dos amigos fora encaminhado pra sua casa.

Relutante,  ele em seu estado alterado,  na fissura da bebida,  resolveu voltar para o bar.

Mesmo sob apelo de sua mãe,  a dizer:

-  Júnior meu filho,  você já bebeu demais.Entre, tome um banho e venha dormir.

  Que o mesmo, sob efeito do vício respondeu:

- Não mãe,  eu vou só lá rapidinho e volto, tá.

Apesar de ver o estado dele, sua mãe se rendeu aos seus pífios argumentos,  talvez para não contrariar. E deixando a porta entre aberta, assentou-se num sofá ao pé da janela, como a esperar ficou cultivando a aflição,  enquanto ele cambaleando, seguido por seu  cachorro branco, ia se escorando aqui acolá, até desaparecer no chagão.

Saiu na rua do Fio, todo atabalhoado,  como se estivesse tentando se acostumar com o uso de óculos de grau. Foi andando assim até a confluência da rua do Fio com a Brotinho. Lá chegando se escorou no poste e deu uma boa olhada pra rua deserta.

A noite silenciosa e seus habitantes noturnos apenas observavam com o passar das horas.

Ele, no cruzamento das ruas, ainda em chão batido, de frente a Pedro Álvares Cabral,  voltou o olhar pro local onde bebia com seus colegas e amigos de infância e viu, que todos tinham realmente se dispersado.

O  cachorro do lado amolando,  perturbava a direção do pensamento, até que firmou o olha pra o bar da Sônia. Tomando a decisão de atravessar aquela avenida perigosa.

Ele com ele, em seus minutos pensando em sabe-se lá em que, atravessou  até chegar a parte central da avenida.

O seu cachorro foi junto, porém o dono não o queria por perto,  por entender o perigo da via.

Nesa discussão,  dono cão,  cão dono surge em frações de segundos um automóvel em alta velocidade, sem necessidade, rompendo todo o  silêncio frio da noite.

Quando, enfim  o dono do cão  ganha a discussão é cruelmente atropelado. Jogado como um nada a uma boa distância do local que estava. O impacto foi tão forte, que as pessoas se surpreenderam negativamente e surgindo paulatinamente de seus confortos, viam um carro escafeder-se escondido pela escuridão da via e da velocidade imprópria,  sem sequer prestar o devido socorro, como convenciona-se corriqueiramente nos dias atuais.

Um corpo de um ser humano caido, largado imóvel,  velado pelos gritos de dores de quem o conhecia, pelo desespero do que estava por vir e por muitos murmúrios decifrados no calor do desespero:

- Meu Deus o carro atropelou o Júnior.

Outros perguntavam:

- Como foi isso?

No emaranhado de toda aquela noite de tragédia Adriano,  Casemiro e Alessandro correram a prestar socorro, tocaram o corpo imóvel.  E cada um em seus pensamentos, segredos e medos diziam e perguntavam:

- Meu Deus o Júnior morreu. Outro falava  consigo a dizer peguei  na cabeça dele e estava mole,  será que era a massa cefálica?...

-Será que ele morreu?

E colocando-o  noutro automóvel em direção ao pronto socorro com esperanças vivas e o intuito de salvar aquela vida seguiram sofrendo na ansiedade.

Enquanto muitos sem respostas continuavam e perguntavam, coisas acerca da vida ou da morte, outros pensavam como avisar aos pais, que o filho único deles havia sido atropelado e poderia não voltar nunca mais.

Do incógnito ao extremamente difícil, alguém  se habilitou e tornou público aos pais a dor dizendo mais ou menos assim:

- Dona Aracy,  seu Antônio,  o Júnior foi atropelado na Pedro Álvares Cabral agora pouco.  Mas já foi levado pelo meninos ao pronto socorro. Vamos aguardar notícias.

A casa logo ficou cheia de solidariedade,  amigos, parentes e curiosos esperavam na angústia,  nas lágrimas o que o óbvio das circunstâncias iria mais tarde confirmar e a justiça, como sempre incelere levaria anos pra sentenciar.

Certeza mesmo, porque nada paga uma vida fora mais uma vez a irresponsabilidade,  combinado com o vício do álcool, a impunidade nas estradas e a dor, que dia a dia ia dilacerando em tristeza aquela mãe, aquele pai como se nada mais valesse a pena.