DESMEDANDO
Certos medos berram mais do que outros. Talvez por terem gosto bem torto ou por suas sombras berrarem com desembestado vigor. São medos que descasbelam o nosso pensar, chicoteando toda pétala da gente sem alforria. Medos de alma quebradiça, ávidos por azucrinar cada pedaço do nosso chão, do nosso voar. Seus dentes vivem decididos a nos encurralar nesses becos atordoados da vida, encubidos da missão solene de pisotear no sagrado sossego e ufa!, como doem, como doem. Assim vão seguindo nessa lida, firmes e fortes, até que num belo dia resolvemos estraçalhar o seu focinho, esmigalhando cada cheiro avesso, cada face atroz que lhe permitia gargalhar e tremular. Então esses medos, outrora feitios do demo, viram um momumental e desprezivel pó. E nada mais.