A Cidade do Silêncio.
Sempre ouvi falar sobre uma cidade abandonada, que ninguém ousava pisar. Uma lenda, dessas que parecem só história pra assustar criança. Mas, sabe como é, né? O espírito aventureiro fala mais alto. E lá fomos nós, eu e mais três amigos que o meu sonho resolveu criar, em direção a esse lugar que, até então, era só boato.
Chegamos. E, cara, era real. O cenário era sinistro: prédios altos, bonitos, mas vazios. Aquele clima de pós-apocalipse, neblina escura, um silêncio que incomodava. Parecia que o tempo tinha desistido dali. Andamos por ruas desertas, exploramos prédios, supermercados… tudo largado, como se alguém tivesse apertado o botão de pausa na vida.
Depois de um tempo, paramos numa praça. Ficamos lá, olhando ao redor, tentando entender o que estava acontecendo. Um vento passou, levando um jornal velho. Cena de filme. A impressão era clara: fazia séculos que ninguém botava os pés ali. Estranho? Muito. Assustador? Nem tanto. A vibe era mais de mistério do que de medo.
Do nada, resolvemos entrar numa casa abandonada. E foi aí que tudo virou de cabeça pra baixo. Encontramos uma garota. Sim, do nada. Ela parecia perdida, meio sonolenta. Olhou pra gente, confusa, e perguntou várias vezes:
“Onde… onde eu tô?”
Ficamos sem reação. Como assim tinha alguém ali? A cidade era pra estar vazia! Contamos pra ela que estávamos numa cidade abandonada, mas, na real, a gente não sabia nem o que tava fazendo ali direito.
Ela parecia ainda mais confusa. E cansada, como se tivesse dormido por séculos. E a verdade era bem essa.
Decidimos levar ela com a gente. A ideia era voltar pra nossa cidade, levar ela pra delegacia, ver se encontravam a família dela. Só que, na saída, dois caras apareceram do nada, apontaram pra ela e começaram a gritar:
“FOI ELA! FOI ELA!”
A confusão bateu forte. Como assim “foi ela”? O que ela tinha feito? Antes que pudéssemos entender qualquer coisa, tudo ficou escuro.
Quando acordamos, estávamos no chão. Eu, meus amigos, a garota, até os caras que estavam acusando ela. Perdidos, desnorteados. Olhamos o relógio: horas tinham passado. Como? Por quê? Ninguém sabia.
Depois de muito tentar entender, a ficha caiu. A garota não era qualquer pessoa. Ela era a razão de tudo. Moradora daquela cidade, ela tinha um poder: fazia as pessoas dormirem. Não um cochilo qualquer, mas um sono profundo, que podia durar anos. Por isso a cidade estava abandonada. Não tinha ninguém andando por ali porque todos os habitantes estavam dormindo, escondidos em suas casas. Pareciam desaparecidos, mas estavam só… congelados no tempo.
Ela não fazia por mal. Não sabia controlar. O poder dela estava ligado ao estado emocional. Se ela ficasse estressada ou assustada, as pessoas ao redor simplesmente apagavam. Foi o que aconteceu com a gente, ali naquela casa. O pico de estresse fez ela usar o poder sem querer, e todos nós fomos pro chão.
Aqueles dois caras? Eram moradores da cidade também. Tinham sido vítimas do poder dela, dormido por anos. Voltaram pra tentar entender o que aconteceu, talvez até pra tirar satisfações. Mas, no fim das contas, ela era só uma garota que não sabia como lidar com o que tinha dentro dela.
A cidade não estava abandonada. Estava dormindo. Um silêncio pesado, cheio de histórias pausadas, de vidas congeladas no tempo. A lenda da cidade fantasma era real, mas ninguém sabia que, por trás dela, existia apenas uma garota, tentando sobreviver a algo que ela nunca escolheu.
E nós? Fomos só mais uns a cair no sono da cidade do silêncio.