ENVELHECER COM DIGNIDADE
ENVELHECER COM DIGNIDADE
Envolvido pelo êxtase da vida, que nos faz caminhar entre sonhos, ideais e miragens, não me dei conta do tempo, inexorável em sua marcha, que, tal como o sol, cruza o espaço de nossa existência, do alvorecer ao entardecer.
Os anos se passaram, os cabelos pratearam, o corpo se encurvou, tal qual o cedro do Líbano, que inclina sua coroa para o chão, apesar de sua eterna busca pelas alturas.
E, em determinado momento, vi as rugas sulcando o rosto, como cicatrizes que evidenciam as batalhas travadas.
Aquele, em frente ao espelho, era eu. Não a casca que encobria o homem interno; não o caminhar mais lento, que não conseguia acompanhar a agilidade do espirito; não as palavras e frases mais suntuosas e moderadas, que eram apenas o supra sumo da sabedoria acumulada.
O verdadeiro Eu estava por detrás das aparências, jovem e pleno de sonhos e ideais que o tempo não conseguia atingir; estava na mente que fervilhava de planos e objetivos a longo prazo, sem se importar com as ameaças de um fim próximo; estava na capacidade de amar sem limites e de se extasiar com a beleza das criaturas e do universo.
Encarei o homem do espelho, com a mesma coragem e audácia dos tempos de juventude e deixei que o homem interno lhe falasse, com toda a dignidade que colhera em minha longa caminhada:
- Seja bem-vindo meu irmão mais velho. Vamos ter que conviver com o fogo da juventude, que ainda arde e a serenidade da sabedoria, que filtra todos os excessos; vamos mergulhar em novos devaneios, usufruir deles, com vagar, como quem sorve uma taça de vinho raro e, em todos os momentos, permitir que a mente e o corpo envelheçam com dignidade, espargindo raios mornos de luz e vida, como o sol, quando se põe.