MÁE
O desejo de Maria Clara de comprar seu perfume preferido não pode ser realizado. Mais um mês, que a morena brejeira, operária da fábrica de calçados, não pode satisfazer sua pequena vontade. O dinheiro que possui deverá ser gasto com seus filhos: o leite para o pequeno Otávio e meias novas para Catarina.
Mais um dia de trabalho encerra e Maria Clara, no retorno ao lar, reflete sobre o fato da vida ter sempre se apresentado difícil para ela.
Ainda jovem apaixonou-se por Roberval, caminheiro bonito e malandro, para o qual Maria Clara entregou toda a graciosidade dos seus dezoito anos. O romance durou poucos meses, quando então Roberval pegou a estrada, ganhou o mundo e nunca mais voltou. Maria Clara ficou com o coração enlutado e a barriga cheia. Meses depois Catarina nasceu.
O tempo aos pouco foi trazendo o sorriso bonito ao rosto de Maria Clara. Sorriso esse que cativou o operário Reginaldo, que devagarinho e com muito carinho foi se declarando para a morena. Foram semanas de namoro e Maria Clara engravidou de Otávio.
A alegria com o nascimento do herdeiro durou pouco tempo, pois quando o menino completou um mês de idade Reginaldo foi diagnosticado com câncer . A doença agressiva e avassaladora levou rapidamente o operário, deixando Maria Clara, com vinte quatro anos, sozinha e com dois filhos.
Maria Clara desperta de seus pensamentos; esquece sua triste trajetória; esquece do desejo de comprar perfume e pega o primeiro filho na escola.