Saudades - BVIW
Tema: o que pesquisar?
Houve um tempo em que as casas não tinham grades, nem muros, nem interfones. Todas elas tinham jardins, grandes ou pequenos. Todos, invariavelmente, tinham roseiras. As casas tinham alpendres e neles haviam samambaias, dependuradas do teto ou em pilastras. Por dentro, as casas tinham forrinhos por todos os lados, feitos à mão, com acabamentos em crochê. Na cozinha, roupas para todos os eletrodomésticos: liquidificador, filtro, botijão de gás, fogão e mesa. E para ir à escola, canelas das próprias crianças, nada de ir de carro nas cidades do interior. Quando chegávamos na escola, devíamos nos enfileirar em frente às Bandeiras Nacional e de Minas Gerais e, em posição de respeito, cantar o Hino Nacional. Fazíamos também uma oração. Depois, com o mesmo respeito, em fila, seguíamos para a sala de aula. Sentávamos a dois, menina com menina e menino com menino. Tínhamos o quadro negro, onde a professora escrevia com o giz branco. Invariavelmente, havia giz nos cabelos ou na bochecha da professora e a gente sentia uma imensa vontade de rir! Quando tínhamos trabalho de casa para fazer, pesquisávamos nos livros ou enciclopédias. Frequentávamos regularmente a biblioteca por causa disso. Mamãe era professora e vendedora de livros. Ela vendia a Êxitus, da mesma família da Barsa. Mas não tínhamos em casa, uma vez que era caríssima. Mamãe conta que a comissão pela venda de uma coleção Exitus, equivalia ao pagamento mensal de professora. Daí pode-se entender como era cara. Mesmo assim tínhamos muitos livros em casa, na modesta estante. Lembro-me de uma vez que eu e uma amiga fomos à biblioteca de uma escola longe de casa. No meio do caminho, vi o nosso cachorro, um pequenês, fujão. Chorando, carreguei o Ringo no colo até a minha casa. Cheguei, desfalecendo, em meio ao alívio dos irmãos por causa da volta do fujão. Ah, que saudades!