Entre Sem Bater - Consciência Humana

A Arte nos Muros diz:

"... não precisamos de uma dia da consciência negra, parda, branca, amarela, albina... precisamos de 365 dias da consciência humana ..."(1)

Em primeiro lugar é preciso reconhecer que o termo "arte nos muros" representa milênios de arte, sentimentos e percepções. Desse modo, não importa se são as suas palavras ou a interpretação de outrem, deve-se respeitar.  Atualmente, o chavão "respeito sua opinião" sofre com a hipocrisia e a falsidade. Esta trilha "Entre sem Bater" agradece aos milhares de anônimos que não podem ter o reconhecimento aqui expresso. Entretanto, assim como os pensadores contemporâneos e até filósofos pré-socráticos, seus autores ajudam a humanidade a evoluir. Em suma, consideramos o grafismo, grafite e até mesmo a pichação como arte e uma palavra nos muros das urbes merece respeito.

CONSCIÊNCIA HUMANA

Em 20 de novembro, "comemora-se" o "Dia da Consciência Negra"(2). Publiquei um texto alusivo a data algum tempo atrás e, passados alguns anos, vejo manifestações contrárias. Surpreendentemente, defendem a consciência humana, e não a consciência negra, é compreensível. A maioria dos brancos ousam apontar necessidades de outros como se soubessem das dores dos negros que sofrem em nossa sociedade.

Vejam, por exemplo, uma situação em pleno ano da graça do senhor de 2023.

Exatamente nesta data nenhum dos 20 clubes de primeira divisão no Brasil tem um técnico ou presidente, assumidamente negro. O futebol de tantos ídolos negros, inclusive o maior deles, segue restrito sob o comando dos brancos. Sendo assim, ter consciência negra não é fazer propaganda na data ou usar uniforme ridículo sem alma.

Sem dúvida, ter consciência implica em reconhecer e mudar a estrutura racista, misógina, preconceituosa e cruel. Por isso, é necessário continuar falando e apontando as críticas aos que insistem nas aparências(3) e nesta frase obtusa e falaciosa.

IMAGEM DO TEXTO ORIGINAL

Reprodução: Internet

CELEBRAÇÃO E FALTA DE CONSCIÊNCIA

A criação de um dia específico para a conscientização sobre a questão racial é uma forma de chamar a atenção para o tema. Inquestionavelmente, a necessidade de combater o racismo estrutural presente em diferentes esferas da sociedade é um fato.

Contudo, é preciso avaliar se essa iniciativa não corre o risco de se tornar apenas uma data simbólica, sem efetivas mudanças de atitude. A falta de consciência, até de muitos negros, em relação à sua própria história e luta é um desafio que persiste. Por outro lado, o diversionismo de frases que defendem a consciência humana, até nos muros das cidades, se multiplicam.

O Dia da Consciência Negra criou um espaço para debates sobre a inclusão, diversidade e igualdade, que, surpreendentemente, não tem aceitação ampla.

Por exemplo, a entrada nas universidades públicas teve avanço para as cotas raciais e sociais. Contudo, a presença de não-brancos nas universidades, originários das escolas públicas de ensino médio ainda é uma minoria. A explicação é simples, entram mais brancos nas escolas técnicas e públicas por terem mais facilidade e acesso. Em outras palavras, aqueles que são contra cotas raciais estão praticando o liberalismo e defendendo somente seus interesses.

HERANÇA HISTÓRICA

Desse modo, é essencial que essas discussões ultrapassem as fronteiras de uma data específica. A consciência sobre a herança histórica da escravidão e a luta contra o preconceito é uma consciência humana. Esta consciência não teve assimilação pela maioria do povo brasileiro. Seja nas instituições educacionais, no ambiente de trabalho e em todos os setores da sociedade a consciência negra deve estar presente.

A falta de consciência negra, inclusive entre negros, proporciona a falta de consciência humana da maioria, venceu o hedonismo humano. A história dos negros e todos os outros brasileiros, e o papel que desempenharam na construção do Brasil, deve sofrer uma revisão.

Por isso atribuímos, em parte, às lacunas na educação formal, que negligencia a contribuição significativa dos negros para o desenvolvimento do país. Promover uma consciência negra e humana requer não apenas a celebração de um dia, mas conscientizar que negros são humanos.

É provável que um comprometimento e debate contínuo, com a revisão e atualização dos currículos escolares, eleve a inclusão de perspectivas diversas.

Desta forma, também é necessário abordar as diversas formas de discriminação que persistem na sociedade, mesmo após anos de luta por igualdade.

O acesso desigual a oportunidades educacionais e profissionais são historicamente reais e não meras conjecturas sociológicas. As limitações das representações estão expressas nos meios de comunicação, nas redes sociais e em qualquer ambiente. Questões como a violência policial, as agressões físicas são apenas algumas das que demandam ações constantes e efetivas.

TRANSFORMAÇÕES

Enfim, em meio a essas reflexões, é importante ressaltar que a falta de consciência entre alguns negros não é geral. Péssimos exemplos como Fernando Holiday ou Sérgio Camargo, trazem uma nódoa para qualquer movimento. Estes retrocessos são responsabilidade da sociedade que concede migalhas para estes cidadãos renegarem até a existência da escravidão. Certamente, foi muito pior desde que o comércio de escravos africanos começou, mas não podemos fechar os olhos.

Embora muitos negros têm consciência de sua história, ainda lutam diariamente contra o preconceito. E, como se não bastasse, defendem a consciência humana, de fato, contribuindo na formação de uma sociedade com trejeitos civilizatórios.

Entretanto, a inexistência de um esforço coletivo para ampliar a conscientização negra, prejudica a compreensão das questões humanas raciais.

Em suma, o Dia da Consciência Negra poderia ser dispensável, desde que a consciência humana fosse igual para todos.

Vivemos momentos próprios para refletir sobre as lutas, passadas e presentes, do povo negro, para além da celebração simbólica.

A conscientização humana e negra exigem um comprometimento contínuo, que rompam as estruturas cheias de vícios. Desse modo, poderemos pensar em avançar em direção a uma sociedade justa e igualitária, sem dias de luta.

P. S.

É curioso como se faz e se difunde um cartaz com a frase-chave deste texto e comete-se, por ignorância, uma agressão. É provável que confundir preconceito (questão racial) com uma doença (albinismo) não seja somente uma confusão mental(4). Por mais que estas pessoas tentem exibir alguma politização ou consciência, demonstram que ainda não entenderam muita coisa.

(1) "Entre Sem Bater - Arte nos Muros - Consciência Humana" em https://evandrooliveira.pro.br/wp/2023/11/21/entre-sem-bater-arte-nos-muros-consciencia-humana/

(2) "Escravidão Eterna x Consciência Negra" em https://evandrooliveira.pro.br/wp/2019/11/20/escravidao-eterna-x-consciencia-negra/

(3) "Entre sem bater - Epicteto - Aparências" em https://evandrooliveira.pro.br/wp/2023/07/29/entre-sem-bater-epitecto-as-aparencias/

(4) "Anarcocapitalismo - A Confusão Mental"  " em https://evandrooliveira.pro.br/wp/2016/05/06/anarcocapitalismo-a-confusao-mental/