Oquidão
Em uma reunião desagradável, cercada por pessoas inóspitas e hostis. Como uma blusa de gola alta de lã que coça e sufoca, gente submersa em certezas imbecis e estéreis, com olhos entreabertos, dos quais só se vê a parte branca do globo ocular. Escolhem palavras adornadas e vazias, tentando se valer de sua completa “oquidão”.
Me permito inventar essa palavra porque não encontro nada palpável que descreva tamanha falta de substância.
Estávamos em um amontoado de concreto, entre sofás de formas orgânicas, posicionados estrategicamente para evitar qualquer traço de calor humano. Como em uma foto posada, onde os poros da modelo são cirurgicamente apagados, para nos apaixonarmos pela ideia de sua não-humanidade. Tudo ali era estético.
Desde o “bom dia” a quem recolhe os lixos dos banheiros até os tênis e as armações de óculos de polietileno superfaturado, tudo exalava vazio.
Eu estava cercada por eles.
Um oceano de cyborgs.
Falavam como gente.
Andavam como gente.
Mas existiam como coisa.