TEMPO DE JABUTICABA
Guardo boas lembranças da minha adolescência no tempo das jabuticabas. Aos domingos, íamos a uma fazenda dos arredores, para apreciar as frutas. Costumávamos formar grandes grupos e o passeio era pura diversão. Pagávamos uma taxa de entrada e podíamos aproveitar à vontade. O pomar era imenso, silencioso, todo sombreado. O espetáculo das árvores carregadas aguçava os sentidos, era o paraíso. Coisa linda era ver os troncos todos cobertos com as frutas pretinhas e brilhantes. As jabuticabas — como esquecer? — eram graúdas e de um doce nunca visto.
A época de jabuticaba costuma ser de pura fartura. Quem tem sua jabuticabeira no quintal pode aproveitar para degustar a fruta direto do pé: há quem jure que o sabor não é o mesmo que o das frutas compradas na feira. Houve época em que muitas pessoas saíam com suas bicicletas oferecendo à porta do freguês. Era vendida aos litros e vinha fresquinha do pé, ainda molhada do "uruvaio" da manhã, como bem dizia a "propaganda".
A jabuticaba tem seus encantos. Dela vêm os melhores licores e geleias. Em sua forma natural, é deliciosa. Quando bem madura, tem a casca bem fininha, e seu "ploc" à hora da mordida provoca uma sensação incomparável. O mel dos deuses foi inventado a partir da jabuticaba: ninguém nunca me disse isso, mas eu tenho certeza.