SALAS DE AULA

Tal como tatuagem, todos nós temos gravadas na mente as primeiras salas de aula que frequentamos e parece que quanto mais o tempo passa, mais nítidas elas ficam e ganham notoriedade até mesmo aqueles detalhes que pareciam insignificantes.

Meus conhecidos dizem que tenho memória de elefante, eu não considero que chegue a tanto, mas há lembranças muito antigas, que me permanecem nítidas como sendo acontecimentos recentes, como:

- O banco de ripas, longo, junto à mesa onde sentávamos para assistir aula de leitura, instalada na varanda da casa da Professora, dona Maria Amável;

- O relógio de parede, tipo oito, que badalava de hora em hora na sala da Professora dona Josefina;

- A roupa estampada com flores de cores berrantes da Professora, dona Dignamerite (como alguém pode ter o desplante de colocar esse nome numa filha?);

- Os corredores, longos e banhados de sol, do Colégio Independência;

- As salas com meia parede dispostas em torno pátio do Colégio Porto Carreiro;

- Os camarins e corredores estreitos e sombrios do Teatro de Santa Isabel, além de muitos outros locais onde fiz vários cursos, conheci pessoas, ouvi e interpretei histórias...

Muitos desses locais já não existem mais, mas acredito que permaneçam na memória de tantos que, como eu, viveram dias intensos de descobertas onde se descortinaram novos horizontes através do conhecimento transmitido por profissionais dedicados a ensinar, repetindo com as ferramentas do seu tempo, o ofício daqueles que, através das pinturas nas cavernas, ensinaram aos futuros caçadores como reconhecer e abater os animais.

As mais conhecidas dessas cavernas estão na França (Lascaux), Espanha (Altamira) e Brasil (Serra da Capivara e 7 Cidades) aonde os estudiosos dos registros arqueológicos procuram interpretar os significados dos petróglifos que, talvez, sejam ensinamentos aos neófitos, histórias, mitos e lendas sobre seus heróis, guerras, acordos de paz ou registros contábeis de tributos, colheitas, secas ou inundações, fenômenos astronômicos...

Se os vândalos de plantão não destruíram, há na Pedra Furada do Município de Venturosa/PE, a pintura de uma figura humana gigantesca rodeada por várias outras pequeninas.

- Seria a ilustração do mito dos gigantes que tem presença constante em todas as escrituras?

- Ou o registro “fotográfico” da professora com seus alunos numa aula de campo?

- Poderia ser o “anjo” protetor ou o exterminador?

A Arqueologia tem por princípio interpretar todos os achados dos povos primitivos com o viés “cerimonial e religioso” que, por ser tendencioso e limitante, é inaceitável sob o ponto de vista da Ciência que não admite restrição de possibilidades.

Claro que a ideia de que existem seres superiores, invisíveis, bons e maus, protetores ou não, que exigem ser reverenciados com ofertas, permeia a mente humana desde tempos imemoriais até mesmo agora em pleno século XXI, quando a tecnologia nos dá a possibilidade de explorar outros planetas e “ver” as profundezas do universo e seus assemelhados, mas a história humana não se limita a servir aos “deuses” e suponho que as dúvidas sobre os registros nas cavernas serão esclarecidos quando soubermos interpretar os códons do nosso DNA, porque lá estão registrados os fatos que são as respostas para a maior parte das perguntas não só da Arqueologia, mas para todas que vagam no limbo do inexplicável.