A praça e o coreto
Nessa noite fria, há algo de mágico no ar. Sentada no banco da praça, envolta no silêncio dos meus pensamentos, sou testemunha de uma sinfonia de vida ao meu redor. Vejo casais enamorados que desfilam diante de mim, como cenas de um filme sem roteiro. Eles tomam sorvete, riem, brincam, vivem. Crianças correm em zigue-zague, ruidosas e despreocupadas, trazendo uma energia que contrasta com o ritmo sereno dos idosos que se reúnem ao redor de tabuleiros de xadrez ou se acomodam em suas cadeiras de praia, olhando para o coreto que ilumina o centro da cidade pacata.
O cheiro do chocolate quente que seguro nas mãos mistura-se ao perfume suave das flores noturnas ao meu lado. Cada gole aquece não só meu corpo, mas também minha alma, enquanto tento capturar em palavras a beleza dessa cena cotidiana.
Há um paradoxo em estar só em meio a tanta vida, mas não é tristeza o que me invade. Pelo contrário, há uma serenidade rara, quase palpável. A felicidade alheia, longe de ser uma sombra para minha solitude, me contagia. Vejo sorrisos, ouço gargalhadas e, de algum modo, sinto que participo desse grande espetáculo, ainda que como uma espectadora anônima.
E, no fundo, algo em mim se enche de esperança. A vida parece gritar que há ainda tempo, que o que é meu também virá. Não sei se será uma mão que segurará a minha, um sonho que se concretizará ou apenas mais noites como essa, onde o simples observar basta para acalmar o coração.
A praça, com suas luzes de natal e seu coreto no centro, guarda segredos de tantos encontros, partidas e reencontros. Talvez, um dia, seja o palco de uma história minha. Por agora, ela é a inspiração para estas míseras palavras, que brotam como pequenas chamas de um coração tranquilo e confiante.
Afinal, o futuro tem o hábito de surpreender quem sabe esperar. E eu tenho toda a paciente do mundo.