Tenho medo

O medo faz parte da concepção humana, não podemos e não devemos não senti-lo, o que nos impulsiona todos os dias ao acordar e ao dormir é a vontade de enfrentar a vida, vencer o medo de viver e superar os obstáculos que possam aparecer, temos como máxima a ideia de que se tem medo vai com medo mesmo e tem que ser assim mesmo.

O medo vem do que não conhecemos, não fomos feitos para lidar com aquilo que nossa mente não consegue desvendar, e isso nos deixa alertas aos perigos que podem, eventualmente, surgir, faz com que escolhamos o melhor e mais seguro caminho a seguir, libera a adrenalina necessária para que a coragem se erga em busca de expor o que o desconhecido pode nos ofertar.

Agora...

O medo de ter medo vem do oposto, vem do que já vimos, vivemos, sentimos, passamos por tantas coisas em nossas vidas e vez ou outra o ciclo se repete, um déjà vu se apresenta como um sonho ruim que se reproduz sem fim, nos deparamos com o mesmo gosto amargo na boca e aquela coragem e vontade de ir com medo mesmo já não existe mais, as pernas não obedecem, a mente se entorpece e só um pensamento não se desfaz: Não dá, já sei onde vai acabar!

Como exemplo, lembro-me de quando sofri um acidente de moto e não queria mais pilotar, não por medo de sofrer outro acidente, isso era mais que possível, mas por medo de sentir medo de que outro acidente pudesse acontecer, eu sabia que ao subir na moto eu precisava estar confiante para ser capaz de enfrentar os medos que o transito nos trás, mas se eu subisse com medo de não ser capaz de ter a reação certa no momento certo, era certeza de que o fundo de um caminhão era o que estaria à minha espera.

O medo de ter medo é uma das dores mais doídas que podemos ter, dói tanto que nos incapacita de nos mover.

O sofrimento vivido, seja ele qual for, mas principalmente o sofrimento por amor, nos torna receosos de encararmos novamente o ser amado e viver com medo de viver a seu lado.

Tenho medo de ter medo.

Medo de não conseguir me entregar a ponto de confiar sem duvidar, medo de viver com medo de um dia qualquer descobrir que o que eu tinha medo lá está, medo de viver de sobressalto a cada gesto ou sinal que não esteja em seu devido lugar, medo de, por medo, não conseguir ser leve e afundar o barco sem ao menos esse ser lançado ao mar.

Não quero viver com medo, mas não encontrei, ainda, um meio de me livrar dele e isso me dá medo.

Meu medo de ter medo é o que me impede de viver o que eu mais anseio, pois se meu medo se realizar eu não poderei o outro culpar, eu me coloquei naquele lugar, e se meu medo não se materializar terei eu, com meu medo, perdido o que mais amo por não ter me permitido viver plenamente o que tanto o amor quis me ofertar.