A MENTE HUMANA DESEMBOCANDO EM ATENTADOS
Nos verões, as mariposas saiam em revoada para o acasalamento, no outro dia milhares caídas ao chão, deixavam à vista dezenas de ovos em seus ventres, as asas voavam pela sarjeta. Naquela noite não foi diferente, a revoada e a morte delas, mas pela manhã todas foram varridas e descartadas. Esta lembrança das mariposas define que era o final de verão de 1973.
Nas quartas-feiras o cadetal que não estava de serviço ou de castigo era liberado quase sempre depois do almoço.
Uns iam ao banco, outros, a maioria, assistir as sessões da tarde, duas e até sessões da noite, era umas congestão de filmes.
Os que tinham namoradas aproveitavam para passar a tarde e parte da noite amando!
A meia noite o sonho acabava e quem não estava de volta no horário marcado trocava uns minutos por um final de semana de castigo.
Na dita quarta-feira tudo corria como de sempre, até depois que as luzes do pátio e corredores e alojamentos foram apagadas pelo plantão, tão logo tocara o silêncio.
Às 22 horas houve a troca do cadete de plantão, que cobria cinco alojamentos, corredores, escadas, banheiros e pátio interno. Era um burburinho a chegada de mais de 200 cadetes, que deveriam responder a chamada a meia noite.
Lá pelas 22:30 horas uma explosão foi ouvida e todo mundo correu, as luzes foram acesas e o plantão subiu as escadas e postou-se frente a porta do banheiro principal interditando o local. Lá de dentro saia fumaça com poeira, não tardaram a chegar o Oficial de dia e o Auxiliar de Serviço e o Adjunto de Dia, um deles gritou, perguntando ao plantão o que havia acontecido. Não sei, respondeu o coitado do plantão, que não usava arma e tinha 17 anos de idade. Veio de lá - você está preso! Então o Adjunto recolheu-o ao xadrez no Corpo da Guarda!
Uma providência imediata já havia sido tomada, o plantão estava preso. Todos os cadetes desceram e entraram, em forma no pátio.
A fumaça e a poeira baixaram e o banheiro foi inspecionado, eram 10 boxes à esquerda e oito à direita do corredor, mas somente um estava destruído. Alguém colocou um petardo no vaso sanitário, artefato que destruiu o vaso sanitário, arrancou azulejos e estraçalhou a porta de madeira, dessas portas ocas.
A solução foi interditar somente o box destruído.
No dia seguinte foi aberto um procedimento que não apurou a autoria do vandalismo. Ao invés de conseguirem que o retorno se desse as 7 horas das quintas-feiras, como o Corpo de Alunos pleiteava, o autor ou autores conseguiram que o retorno passasse a ser 22 duas horas, ao invés da meia noite. O cadete preso foi liberado às 3:30 horas para assumir o mesmo posto!
Este episódio já estava sepultado, assim como outros, que as vezes me perturbam, quando alguém rememora e eu não consigo acreditar que aconteceu. Me perturbam, pois assustam com a tal de demência.
Este fato do atentado ao vaso sanitário me veio a memória por ter partes dele num sonho anteontem, com a diferença que o autor foi pego e se tratava do "Tiu França"!