O Mundo em Minha Mente: A Verdade do Coração

O relógio da parede marcava exatamente 3h17 da madrugada quando Raul abriu os olhos pela terceira vez naquela noite. O quarto estava envolto em uma penumbra inquietante; o abajur esquecido ligado emitia uma luz âmbar que lançava sombras dançantes nas paredes. O silêncio parecia amplificado, preenchido apenas pelo tic-tac persistente do relógio. Havia uma inquietação dentro dele, uma sensação desconfortável que, embora sutil, não podia mais ser ignorada.

Ele murmurou para si mesmo:

— O mundo não é verdadeiro na minha mente, mas eu continuo procurando a resposta no meu coração...

Era uma frase que vinha lhe assombrando nos últimos meses, como um mantra de desespero, ou talvez de esperança. Raul não sabia ao certo. O que ele sabia era que algo no mundo ao seu redor parecia... desalinhado. As cores do céu, os sorrisos das pessoas, o sabor da comida, tudo parecia de alguma forma distante.

A Inquietação

Raul levantou-se da cama e, com passos arrastados, caminhou até a janela do pequeno apartamento no centro da cidade. A vista, normalmente uma confusão de luzes e movimentos, estava surpreendentemente calma. As ruas desertas pareciam um palco vazio, onde os protagonistas haviam abandonado suas cenas.

Enquanto observava a cidade adormecida, Raul sentiu uma pontada de solidão, mas também de curiosidade. Havia algo que ele precisava entender, algo que estava escondido em algum lugar entre a realidade que via e os sentimentos que carregava.

"Será que é minha mente que distorce o mundo?", ele pensou. "Ou será que o mundo, por si só, é uma ilusão que construímos para nos sentirmos seguros?"

O Caminho do Coração

Raul decidiu sair. Vestiu seu casaco, calçou os sapatos e desceu as escadas do prédio em silêncio. A rua estava fria, e o vento noturno carregava o aroma metálico típico da cidade, misturado com o perfume distante de jasmim vindo de um jardim próximo. Ele caminhou sem destino, guiado apenas pelo instinto.

A cada esquina, sentia como se estivesse em busca de algo que não sabia nomear. Passou por cafés fechados, praças desertas e vitrines brilhando solitárias sob as luzes artificiais. Seu coração, entretanto, parecia saber o caminho, como se estivesse conduzindo-o para algo mais profundo.

Foi quando chegou à ponte que cruzava o rio. As águas escuras refletiam fragmentos do céu estrelado. Raul parou no meio da ponte e olhou para o horizonte. Ali, envolto pela vastidão da noite, ele se permitiu sentir.

Sentiu o peso das dúvidas, a angústia de não entender o que o mundo significava para ele. Sentiu o medo de que talvez nunca encontrasse as respostas que procurava. Mas, ao mesmo tempo, sentiu algo mais. Uma pequena, mas poderosa fagulha de esperança.

A Resposta

De repente, percebeu que o que procurava não estava no mundo lá fora, mas dentro de si. As respostas que buscava em paisagens, ruas e estrelas estavam, na verdade, enterradas no mais profundo do seu coração.

Raul fechou os olhos e respirou fundo. Permitiu que cada emoção viesse à tona: a tristeza, a dúvida, o amor, a gratidão. Sentiu como se, por um breve momento, estivesse conectado a algo maior, algo verdadeiro.

— Talvez o mundo nunca seja verdadeiro na mente de ninguém — ele sussurrou para si mesmo. — Mas enquanto eu continuar procurando no coração, talvez isso seja o suficiente.

O Amanhecer

Quando finalmente voltou para casa, o céu já começava a clarear. Um débil tom rosado anunciava o início de um novo dia. Raul sentou-se à mesa da cozinha com uma xícara de café quente entre as mãos. Sentia-se diferente. A inquietação ainda estava lá, mas agora era acompanhada por uma estranha sensação de paz.

Ele não sabia o que o futuro reservava, mas pela primeira vez em muito tempo, sentia que estava no caminho certo. Afinal, mesmo que o mundo fosse uma ilusão, o coração sempre tinha algo a dizer — e era lá que ele encontraria sua verdade.