Fissurado por gêmeos
Eu sempre fui muito fissurado por gêmeos. É meu sonho de infância que carrego como um segredo, mas agora decidi revelar.
Começou com meu pai, que é gêmeo. Depois foi uma prima que teve filhas gêmeas. Em seguida meu irmão casou-se com uma gêmea. E eu nada de encontrar uma mulher gêmea para namorar.
Acabei casando e tendo dois filhos, um menino e uma menina, não gêmeos.
Passou o tempo, as crianças cresceram e não sei se a vontade de ter filhos gêmeos ajudou no rompimento de meu casamento.
Ao ficar solteiro, paquerava as meninas da faculdade onde leciono, mas nada de encontrar uma gêmea. Apelei para o bate-papo na Internet. Ao conversar com as garotas, ia desfilando baboseiras até que sem querer, querendo, perguntava por irmãs, irmãos e filhos para saber se havia alguma ligação com gêmeos.
Depois de várias tentativas, encontrei uma mulher assim como eu, separada e solitária. Fomos conversando, trocamos telefones e nos dando muito bem. Esqueci até da minha vontade de encontrar uma mulher que fosse gêmea, ou que tivesse filhos gêmeos.
Encontramo-nos, saímos várias vezes juntos, fizemos amor e foi maravilhoso. Ela disse que tinha duas filhas adolescentes.
Para minha surpresa, ambas tinham 13 anos, nascidas no mesmo dia. Só não chorei de alegria porque me ensinaram que homem não chora. Agora, todos os dias, nós quatro estamos sempre juntos, desde o café da manhã. São duas gêmeas e duas almas gêmeas.
Não canso de recitar para amada uma das filosofias inseridas numa música de Martinho da Vila:
- A tua alma-gêmea não tem par, porque és ímpar.
Aroldo Arão de Medeiros
05/08/2006