O ESPELHO NÃO MENTE

15 de novembro de 2024. 17h42min. Lá fora a chuva cai, trazendo alívio para a natureza que, certamente , agradece e se mostra renovada. Enquanto isso, resolvo relatar a história de Belmiro, pessoa tranquila, de bem com a vida, mas lutando contra as adversidades que são impostas a ele. Leia, se tiver um pouco de paciência.

No dia 8 de novembro p. passado, Belmiro esteve no Serviço de Oftalmologia do serviço médico ao qual pertencia, a fim de fazer um procedimento chamado capsulotomia. Isso mesmo. Esse procedimento de capsulotomia yag laser é uma técnica realizada sob anestesia tópica (gotas) em regime de ambulatório, leva apenas alguns minutos a ser executada e é indolor, tanto durante a cirurgia como no pós-operatório.

Terminado o procedimento feito pelo médico especialista, que aconteceu sem qualquer intercorrência, passou no banheiro do órgão e, diante do espelho, levou um susto grande. Verificou que sua visão teve uma extraordinária mudança. Passou a enxergar mais que antes. No entanto, naquele mesmo momento, uma tristeza tomou conta de sua alma. Por quê? Percebeu que estava mais idoso do que pensava. Seu rosto, muito judiado pelo tempo, bem transfigurado, mostrou-lhe uma infinidade de linhas de expressão. Lembrou-se de que, quando encontrava com alguns amigos, eles lhe diziam que, apesar de sua idade, estava muito bem. Não foi isso que encontrou. Ficou deveras triste. Houve nesse momento uma contradição: ALEGRIA X DECEPÇÃO.

Não queria revelar, mas, a partir daquele dia, embora sua visão estivesse tão boa, surpreendente, constatou que o tempo, realmente, se encarregara, cruelmente, de lhe proporcionar marcas ou linhas fortes de que a velhice já mesmo batera com força à sua porta.

Fez algumas reflexões. Anteriormente, apesar das dificuldades e sofrimentos que a vida lhe oferecera, ainda se considerava um pouco jovem e se mostrava satisfeito com sua aparência. Logo foi buscar um culpado pela mudança tão drástica, a seu ver. Saúde... pensou, está sob controle. Apenas o que lhe incomodava era uma cefaleia crônica, com a qual vinha digladiando fazia muito tempo. Jogou o peso sobre si mesmo em alguns aspectos. Pensou nas decepções que já tivera e vinha enfrentado nos últimos anos. Muitos desafios... Preocupações com casos mal resolvidos durante sua vida, inseguranças e demora em decisões tão importantes, sofrimentos outros, como a ingratidão...

Belmiro extravasou este sentimento que estava muito latente em seu coração, diante de tudo que estava vivendo. Buscava um caminho menos doloroso: convencer-se de que os setenta cinco anos já passados, desde quando nascera, indicavam que não adiantava se revoltar com a implacabilidade do tempo. Tinha que aceitar que, daqui a pouco, seu corpo seria entregue aos vermes. Tinha consciência de que a finitude é ter a consciência de que o amanhã pode não chegar. Para ele, que acreditava em Deus, uma vida nova o espera.va. Tomara que Ele me reserve uma morada cheia de luz no paraíso, onde não existem dores e sofrimentos, mas muita paz. Dizia ele.

Belmiro não podia deixar de dizer que amava a vida, que iria, mesmo não sabendo para onde, partir muito triste, pois deixaria para trás pessoas as quais amava: esposa, seus filhos, seus netos, sua neta, e alguns, não muitos, amigos de verdade.

Termino minha crônica citando Machado de Assis que disse:

" ESTA É A GRANDE VANTAGEM DA MORTE, QUE, SE NÃO DEIXA BOCA PARA RIR, TAMBÉM NÃO DEIXA

OLHOS PARA CHORAR..."

LUIZ GONZAGA PEREIRA DE SOUZA
Enviado por LUIZ GONZAGA PEREIRA DE SOUZA em 15/11/2024
Reeditado em 21/11/2024
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