Festa de Arromba
Quando lerem o título desta crônica, podem me chamar pelo jargão do personagem do programa televisivo (termo usado por quem tem idade avançada) Zorra Total: “Tu és velho, hem, Alvarenga!” Eu não ficarei chateado, pois a festa que passarei a contar foi em homenagem aos oitenta anos comemorados por nosso querido pai.
Não é muita gente que chega a essa idade, e muitos que a alcançam tem doenças que incomodam a si e a seus familiares.
Nosso pai, dia oito de agosto de dois mil e cinco, completou essa data quase secular. Um ano antes, reuniu os filhos e disse que gostaria de presentear com uma festa aos seus amigos.
Pedido feito, começamos a bolar o evento. Foram quatro reuniões em que ele participava até onde nós deixávamos, pois queríamos fazer-lhe algumas surpresas. A lista de convidados foi extensa, esticava, diminuía, até que chegássemos a um consenso.
Vamos falar de tudo o que de bom aconteceu durante os preparativos e no dia festivo, porque os contratempos ocorridos entre os irmãos ficaram para trás. Vale a pena lembrar que foram pequenas discussões de disputa de ego, poder, força e que uniu ainda mais os manos.
Dia oito foi chuvoso, mas não conseguiu tirar o brilho das comemorações e dos olhos de alegria do Seu Arão, o aniversariante.
A missa celebrada pelo Padre Zezinho foi conduzida de maneira irretocável. A participação no ofertório dos netos e bisnetos deixou a todos maravilhados. Durante a missa aconteceu o batismo de uma bisneta e nada mais justo do que ele ter sido escolhido o padrinho da pequerrucha. Eram dezenas de flashes a espocarem (novamente um termo usado por quem é velho) nos olhos da menina assustada, que naquele instante passava a ser filha de Cristo.
A prática (não precisa ser octogenário para usar essa palavra), ou melhor, a homilia, comentário feito pelo padre realçou os quatro amores do aniversariante: nossa mãe, a saudosa Pedrinha, a nossa família, que lhe proporcionou mais alegria que tristeza nesses vinte e nove mil e duzentos dias, a Banda Carlos Gomes que o incentivou a gostar da arte e por fim a Paróquia Nossa Senhora dos Navegantes que o encaminhou para fazer somente o bem ao próximo.
Na missa um de seus filhos leu uma mensagem que citava um exemplo a não ser seguido, o abandono de um pai e mostrava olhar de pavor do progenitor abandonado.
Passamos agora a contar o que aconteceu no salão de festas. Os netos aguardavam em seus postos, alegres, a ordem de servir as bebidas aos convidados. Num telão foram exibidas as etapas da vida de nosso pai. Foram filmagens amadoras, mas que pareciam feitas por profissionais, que retratavam os tempos em que ele e seu irmão gêmeo Abrahão quebravam pedra, ainda crianças, para vendê-las para a construção da estrada de ferro. Depois foram mostrados os irmãos brincando à beira da lagoa e sobre uma árvore. Imagens essas colhidas de dois meninos gêmeos. Em seguida, um casal vestido de noivos, numa canoa, indo se casar, assim como aconteceu há cinquenta e seis anos. Na fase adulta, o tio Abrahão, representando nosso pai, foi visto na igreja, no porto e trajado com o uniforme da banda. Por fim foram mostradas imagens das Bodas de Ouro e algumas fotos da família passavam no telão, pormenorizando toda a longa e vida de nosso pai.
Saindo da tela para a realidade, víamos ali presente um senhor esbanjando saúde, alegria e bom papo.
Comida gostosa. Os mais diferentes pratos foram preparados por senhoras que nada cobraram e que fizeram “pela amizade que tinham com o homem que lhes trazia sempre alegria”.
As sobremesas foram feitas pelas filhas e noras que disputavam quem elaboraria a melhor iguaria, e quem saiu ganhando fomos nós, que nos refestelamos nos doces.
Sempre em festas desse tipo o aniversariante deixa sobre a mesa um enfeite que o convidado leva para casa como lembrança. Dessa vez foi diferente, seu Arão passou mesa por mesa e entregava um pacotinho. Era um chaveiro onde, de um lado, estava estampada a sua foto, do outro seu nome, a data e a gravação “80 anos”.
Para terminar, não podia faltar a música, cantada por uma dupla que relembrava canções antigas e atuais. Seu Arão dançou com as filhas e as noras e promete dançar daqui a dez anos, se Deus assim o permitir.
Aroldo Arão de Medeiros
29/07/2006